segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Augustine Azul [2015]

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Por Macrocefalia Musical

É raro, mas pode acontecer. Você alguma vez já pegou um disco (seja ele no formato físico ou digital) e ficou encarando a capa? Não sei se existe um pensamento ''exato'' por trás desse ato, mas quando faço isso, geralmente penso: será que o conteúdo refletirá o que vejo na arte?
Por vezes é uma viagem sem volta. Como poderia saber que um prisma refletiria tanto Prog na forma de Pink Floyd? Jamais imaginaria que o Jeff Beck arrebataria meus ouvidos com um som tão futurista, ostentando uma maçã na capa de seu Jeff Beck Group, ou que o Led Zeppelin, fosse derreter minha mente da mesma forma que aconteceu com a carcaça do dirigível em chamas do Led I.

Não é um sistema à prova de falhas, muitas vezes as artes dos discos são trabalhos paralelos que tentam unir teias por conceitos diferentes. É uma maneira que propõe um novo ângulo de observação artístico para linkar um trabalho. A ideia é criar um signo, algo que você olhe e imediatamente pense: essa mina de Black Power é do ''Maggot Brain''.


Volto a repetir o mantra: é complicado achar um todo bem sincronizado, mas quando você acha e aprecia as notas, o baque é ainda maior. Você escuta o disco e frita de uma maneira quase conceitual. É como se você se identificasse com aquilo, da mesma maneira que o músico que está nos créditos o fez. É algo limpo e que não tenta se esconder, o groove é reto.

Arte: Inácio Eugênio - Crowl
E se tem um registro que vai lhe atingir como um porrete, desde a capa e desnorteará sua bússola psicológica, meu amigo, esse trampo será o EP dos paraibanos do Augustine Azul. O autointitulado lançado (virtualmente) no dia 01 de julho de 2015 é extremamente fiel ao que é relatado na capa e, digo mais, se eu deixei de falar algo, desculpem-me, desde que saquei essa jam, possuo dois martelos cravados no meu cérebro. A fritação Prog-instrumental do trio é violenta

Se teve um registro nacional que me pegou pelo pé foi esse aqui. A pegada do trio é assustadora. A bateria pesa, mas com técnica, bombeia o sangue da síncope para todos os instrumentos e mostra uma versatilidade notável, deixando claro desde a base, que o que temos aqui é uma cozinha bastante inventiva, livre e casca grossa.

O baixo de Jonathan Beltrão não caminha com a bateria de Edgard Moreira o tempo todo, ele desafia a guitarra, joga novos graves, deixa tudo mais torto e adiciona um groove bastante ácido em meio à tantas influências diversas. Insights que surgem desde o Stoner, passando pela psicodelia e um groove Funky que encerra o EP com ''Aquele Arregaço'', literalmente.

Na guitarra, João Yor fecha o pack, servindo como o norte de tudo que acontece aqui. Só que cuidado com essa frase, durante os quase 25 minutos que as notas surgem como um choque de taser, todos os instrumentos disputam espaço de maneira contundente.

Só que a fagulha que fará deste som, algo único nos seus fones, é justamente a criatividade de cada música. A diversidade de influências e a técnica crua de cada um dos envolvidos, que com um conceito muito bem definido, impressionam pela exatidão das timbragens.

Falei tanto das artes antes do texto por que você vai olhar pra essa daqui pra frente e lembrar: vish. É um trabalho marcante, seco e que define a força de um grupo que conseguiu achar um conceito e extendê-lo de forma rica sem se perder.

Aqui tem muito Blues, aquelas Hardeiras obscuras, música brasileira, ácido e no fim das contas o estrago chega com a força de um ''Mesclado'' mesmo. A química da banda é fervorosa, o baque é ''3>1'' na entrada, a pancadaria é vertiginosa e no fim parece que você vai cair, mas quando tudo ficar turvo, só verás um ''Teto Preto'' batizando jams ao vivo (a especialidade deste trio), como se a vida fosse uma eterna brisa num festival qualquer em 1900 e ''Setenta e Quatro''.

A cena underground brasileira vai muito bem (obrigado) e são grupos como esse, que além de evidenciarem o tato de nossos músicos e o alto nível das gravações made in Brazil (sem trocadilho), ressaltam ainda mais o puro néctar da música instrumental, nos provando por A + B, como é possível falar muito, sem precisar necessariamente cantar algo concreto. 

Uma bomba de estilhaços com um laço Prog para amarrar a ideia, esse é o Augustine Azul e seu EP. Depois da primeira audição parece que você saiu correndo e atravessou uma porta de vidro temperado. Que muqueta, é tão bom que até o nome do ''Nando Reis'' passa batido!


ENTREVISTA:

1- O conceito base do som de vocês é o rock progressivo e não o stoner, como muitos pensam. Como essa escolha estética faz vocês trabalharem pra mesclar influências e não se fechar dentro de um estilo apenas ?

O Rock Progressivo permite uma liberdade muito maior ao compor, pois conseguimos variar de maneira extrema o que é produzido dentro da música, como os compassos, tons, frases e temas. Algo que nos possibilita passear além do Rock Progressivo, mas o faz mantendo uma sonoridade que nos é íntima. Gostamos de escutar vários gêneros e isso se reflete no nosso som, que passeia não só pelo Stoner, mas absolutamente tudo que consumimos musicalmente.

2- E a banda, como se deu a formação do Augustine Azul ?

Eu (João Yor) e o Jonathan estávamos fazendo umas jams com nossos amigos. Daí pra frente as composições foram surgindo e a necessidade de ser uma banda também. O baterista dessas jams já tinha projetos e preferiu não continuar, depois Jonathan conheceu Edgard num bar e deu start na lombra.

3- O som desse EP é elementar por vários motivos, mas creio que o principa seja o caráter orgânico do todo. Como foi o processo de gravação ?

Sendo bem sincero, as condições não foram nem um pouco favoráveis, mas contamos com a ajuda de uma galera muito massa. Um amigo liberou a sala do home studio e uma bateria, os microfones arrumamos com outro parceiro, depois captamos a batera do jeito que deu e colocamos a guitarra e o baixo em linha, pra depois editar, mixar e masterizar tudo por conta própria e tá aí rolando. 

4- Na última session dessa gravação ("Nando Reis/Aquele Regaço"), o EP se encerra num boggie funkeado que é veneno. Vocês pensam em trabalhar mais com esse elemento ácido e gravar algo mais swingado num futuro próximo?

Sim, a gente viaja muito compondo e temos uma influência muito forte de Funk, mesmo não tocando o estilo propriamente dito, inclusive, já temos alguns riffs que transparecem mais nitidamente esse grooveado que o funk possui.

5- E daqui pra frente, quais são os planos? Dá pra soltar ou está tudo em off ainda?

Bicho, a gente tá em processo de composição e planejando lançar um álbum no próximo ano. Temos também músicas novas que já tocamos ao vivo e algumas que estão sendo compostas nos ensaios dos shows do EP. Ano que vem tem coisa nova com certeza!

6 - O Conceito trio remete bastante aos combos clássicos dos anos setenta, como o Taste e etc, mas como é essa química no víes de vocês, o instrumental ?

Nós achamos que o conceito de trio remete ao triângulo e a sua perfeita harmonia estética e prática. Além do som correr mais rápido, por ser mais concentrado, a gente se sente bastante confortável ao trabalhar junto, é uma liberdade massa de criação.

7- Pra finalizar, gostaria de agradecer pela atenção, o som de vocês é bastante singular. Aliás, falando nisso, o que os senhores estão ouvindo no momento? Algum desses sons acabou influenciando a gravação do EP de alguma maneira?

Pô, muito obrigado pelo elogio e pelo carinho com nosso som! Nós escutamos muito Led Zeppelin, Captain Beyond, Rush, King Crimson, Pink Floyd, Sleep, Down, EYEHATEGOD, Pantera, Wolfmother, Radio Moscow, Audioslave... É bem relativo como tudo isso entrou como influência no EP, acreditamos que interfira mais na maneira como desenvolvemos o gosto para não só escutar, mas criar sons.


João Yor - guitarra
Jonathan Beltrão - baixo
Edgard Moreira - bateria

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Erasmo Carlos - Meus Lado B ao Vivo [2015]

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Por Eduardo Guimarães no Território da Música

Quem é dos áureos tempos do disco de vinil - que na verdade continua vivo - entende o conceito de Lado B. Era aquela música que não era trabalhada em rádios ou TVs e muitas vezes ficava perdida no meio do repertório do disco. Além de ser uma das faixas do lado B do LP ou do compacto, propriamente dito. 

Pois bem, pensando nessas canções menos populares, Erasmo Carlos resolveu abrir o baú e fazer uma série de shows com essas músicas.

O resultado dessa empreitada é o lançamento de “Meus Lados B”, ( que chega às lojas em julho), via Coqueiro Verde Records, em CD e DVD. Este trabalho reúne canções menos populares e também menos tocadas pelo próprio Tremendão ao longo da carreira. O show que resultou neste lançamento foi registrado em janeiro do ano passado, no palco do Tom Jazz, em São Paulo.


01. Gente Aberta
02. Amar Pra Viver ou Viver de Amor
03. A Carta
04. O Homem da Motocicleta
05. Estou Dez Anos Atrasado
06. Vou Ficar Nu Para Chamar sua Atenção
07. Dois Animais na Selva Suja da Rua
08. É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo
09. Maria Joana
10. De Noite na Cama
11. Cachaça Mecânica
12. O Comilão
13. Mané João
14. Paralelas
15. Abra Seus Olhos
16. Grilos
17. Meu Mar
18. Queremos Saber
19. Análise Descontraída
20. Sementes do Amanhã
21. Geração do Meio
22. 1990 - Projeto Salva Terra

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Beach Combers - Na Brasa - Volume 1 [2011]

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Por Chico no Sintonia Musikal

Não se deixe enganar pela capa que remete a de bandas como Iron Maiden e outras de heavy metal, apaixonadas por caveiras e letreiros fantasmagóricos nos discos. O conteúdo deste primeiro – e único, até o momento – volume do “Na Brasa”, CD gravado pelos Beach Combers, é de genuína Jovem Guarda. Em contraste com a folia de Momo, que rolava pelas ruas e avenidas do Rio, o grupo se reuniu durante o carnaval de 2011 no Estúdio 82, localizado na Lapa, para produzir e gravar este álbum, segundo informa o site da banda. Foram registradas 13 versões instrumentais de clássicos do movimento que (completará 50 anos no mês que vem) completou 50 anos no dia 22 de agosto de 2015, dia da estreia do programa comandado pelo Roberto Carlos na TV Record.

A maioria das músicas - seis no total - é do repertório do Roberto Carlos, como "É proibido fumar" e "Quero que vá tudo pro inferno". Um dos destaques é o cover de “O milionário”, hit d’Os Incríveis, ainda insuperáveis nessa música. A curiosidade é “Nossas botas foram feitas para andar”, versão de “These boots are made for walking”, e gravada no Brasil pela Sonny Delane (postada aqui), entre outras. A única fora do universo musical da Jovem Guarda é “Um lugar do caralho”, de Júpiter Maçã, também gravada pelo grupo Kynna, com vocal da Lílian Knapp (ex-Leno & Lilian).

Trio carioca de Beat Music gravou este CD durante o carnaval de 2011
O trio carioca de Beat Music (Surf / Garagem / Psicodelia / Instrumental), do circuito independente, é formado por Bernar Gomma (guitarra), Guzz The Fuzz (baixo) e Lucas Leão (bateria). Neste CD, que foi liberado para download gratuito, os músicos contaram com a participação de Paoli, no órgão, pra dar o toque “lafayetteano” no disco, mixado e produzido pelo organista durante o carnaval. Este é o segundo álbum do trio, sendo que o primeiro é o EP homônimo, de 2010. O terceiro e mais recente, "Ninguém segura os Beach Combers" (2012), foi prensado em vinil na Alemanha e postado (ontem) no blog Por trás da vitrola, mas a ordem agora é curtir "Na Brasa". Confira:


01 – Intro 
(Beach Combers)
02 - Você não serve pra mim
(Renato Barros)
03 – Quando
(Roberto Carlos)
04 - Quero que vá tudo pro inferno
(Roberto Carlos – Erasmo Carlos)
05 - Namoradinha de um amigo meu
(Roberto Carlos)
06 - Eu te darei o céu
(Roberto Carlos – Erasmo Carlos)
07 - É proibido fumar
(Roberto Carlos – Erasmo Carlos)
08 - The millionaire (O Milionário)
(Mike Maxfield)
09 - Pobre menina (Hang on Sloopy)
(Russel – Farrell)
10 - Nossas botas foram feitas para andar (These boots are made for walking)
(Lee Hazlewood)
11 - Meu bem (Girl)
(Lennon – McCartney)
12 - Silvia 20 horas domingo
(Tom Gomes – Luis Vagner)
13 – Um lugar do caralho
(Flávio Basso, o Júpiter Maçã)
14 - Vem quente que estou fervendo
(Carlos Imperial – Eduardo Araújo)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Cidade Verde Sounds - O Jogo [2015]


Aquela vontade de ir curtir o verão na praia, que é o lugar mais que certo para ouvir um reggae. Seguindo esse pensamento vai o novo álbum do Cidade Verdade Sounds que ironicamente é uma banda do interior.


1 - Da minha vida eu que sei (Quem sabe sou eu)
2 - Rebelde na Esquina
3 - Dancehall Style (part Fael Primeiro)
4 - É proibido
5 - Hoje (part. Planta e Raiz)
6 - Real Raggamuffin (part. Monkey Jhayam)
7 - Estar com você
8 - Só por amor (part. Nissin Oriente, prod. DJ Coala e Mastor)
9 - O que a vida traz
10 - A Marcha que eu sigo (prod. Dj Caique)
11 - Viver como um só (prod. Oness Records)
12 - Red Eyes


sábado, 19 de dezembro de 2015

The Mullet Monster Mafia - Power Surf Orchestra [2009]




O Mullet Monster Mafia, também conhecido como Mullet, ou apenas MMM, como eram chamados pelo trio skate punk californiano Agent Orange, com quem dividiram um extensa turnê brasileira em 2010, começou atividades em dezembro de 2008 e no mês seguinte já estavam com este EP de 6 canções gravado. Em fevereiro de 2009 distribuíam as 1000 cópias no festival Psycho Carnival, em Curitiba.

Logo o quarteto ficou conhecido, seu som auto nomeado "Power Surf Orchestra", nada mais é do que uma surf music pesada, tocada em volume alto e sem dó dos instrumentos, a parte 'orquestra' ficava por conta do trompete JC Moloncio, que deixou a banda no final de 2012, reduzindo o Mullet Monster Mafia a um trio. O EP gravado em Piracicaba/SP tem produção conjunta do MMM com Celso Rocha, destaque para as porradas "Sinister people secrets" e "Swamp", e para a balada "Freshwater". O projeto gráfico é simples, as informações vêm na contracapa do envelope que guarda o CD. No rodapé um frase chama a atenção, ela diz: "Pirataria se combate é na facada!!!".

O Mullet Monster Mafia fez muitos shows, incluindo uma turnê de dez shows pela Europa em 2011, também acompanhou muitas nomes internacionais em passagem pelo Brasil. A banda lançou um segundo EP em 2011, "Dogs of the seas". O blog Disco Furado conversou com o trio no SESC de Presidente Prudente no dia 23 de março de 2013, ocasião em que o MMM acompanhava a turnê do quinteto surf music Los Chamánicos, do Chile. No link abaixo você pode conferir o que houve nesta conversa.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Walter Franco - Revolver [1975]

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Por Lívio Tragtemberg
publicado originalmente na Revista Bizz, Edição 33, de Abril de 1988*

"Apesar de tudo muito leve", cantava esse paulista de formação universitária, em plena época da barra-pesada. A sabedoria de Walter Franco está reunida no Revolver e no seu precursor, o enigmático "disco da mosca" , de 73, que tem as antológicas "Me Deixe Mudo" e "Cabeça" (defendida por ele, grande campeão de vaias, no último FIC da TV Globo). Os dois discos são fundamentais, mas foi Revolver que antecedeu e indicou direções mais atuais - ainda - para a música popular brasileira, graças ao tratamento mais "roqueiro" (arranjos eletrificados, uso de efeitos e outros recursos de estúdio) dado a suas composições. Como um trovador extraviado da geléia geral da Tropicália, ele cria miniaturas, paisagens sonoras independentes entre si, dando corpo a um trabalho extremamente rico na combinação de poesia e música (os arranjos ficaram a cargo do baixista Rodolpho Grani Jr.). 

No fundo, a concepção entre palavra e som na música de Walter Franco é indissolúvel e indivisível. Ele trabalha o ritmo da palavra, desdobrando-a com pausas curtas e respirações alongadas, criando novos sentidos a partir de frases breves, como na lancinante "Apesar de Tudo É Muito Leve". Walter já tinha evoluído muito além da letra colegial/adolescente, que marca o rock dos 80. "Nothing" é um exemplo da construção complexa que faz a partir de elementos extremamente simples: "Nothing to see/ Nothing to do/ Nothing today/ About me/ I am not happy now/ I am not sad". Junto com "Feito Gente"- ambas deste LP - e "Canalha" (de 79) forma o tríptico pré-punk anos antes do retardatário punk tupiniquim. 

A poesia de Walter evoluiu em duas direções: uma decorrente da influência da filosofia oriental e outra que aborda a agressividade urbana. Da primeira ele herdou a utilização da forma mântrica-circular da frase que retorna sobre si mesma, ou que se revela por etapas, palavra por palavra, como em "Mamãe D´Água" (o verso "Yara eu" vai sendo acrescido de palavras até formar "Yara eu te amo muito mas agora é tarde eu vou dormir") e no famoso hai-kai caleidoscópico de "Eternamente" ("Eternamente/É ter na mente/Éter na mente/Eterna mente/Eternamente"). Como se vê, novos significados vão surgindo a cada nova palavra que se desdobra a partir da inicial. É um procedimento em sintonia com a poesia moderna, em especial, pelos minimalistas americanos, como Gertrude Stein, e.e. cummings e, no teatro, Bob Wilson. 

Na concepção musical do LP, tentou-se esgotar as possibilidades de um estúdio de dezesseis canais, com utilização de play-backs em sentido contrário, saturação de freqüências e pré-mixagens. A complexidade do trabalho desenvolvido com a sonoridade da bateria - que além de usar filtros de freqüências, serve-se às vezes de outra bateria - levou a utilizar dois bateristas nos shows. A combinação dos instrumentos acústicos - principalmente os tambores e tumbadoras que reforçam o clima tribal/meditativo de algumas letras - com os teclados e guitarras sintetiza as boas influências da música contemporânea e do rock. 

Os últimos vinte anos de música no Brasil atestam que Revolver não perdeu sua atualidade. Continua pulsando de idéias, novas até para o ouvido da era digital. O percurso posterior de Walter Franco seguiu outras direções, principalmente o caminho das baladas meditativas. Mas de quem elaborou dois LPs de tamanha criatividade e inteligência, podem-se esperar sempre novas surpresas. Por enquanto, a Continental Discos bem que poderia relançar Revolver (ele já chegou a ser relançado em 79, mas é muito difícil encontrá-lo hoje nas lojas) e o "disco da mosca" (também conhecido como Ou Não) que está igualmente fora de catálogo e é outra pérola da música popular brasileira. 



A1. Feito Gente
(Walter Franco)
A2. Eternamente
(Walter Franco)
A3. Mamãe D´água
(Walter Franco)
A4. Partir do Alto / Animal Sentimental
(Walter Franco)
A5. 1 Pensamento
(Walter Franco)
A6. Toque Frágil
(Walter Franco)

B1. Nothing
(Walter Franco)
B2. Arte e Manha
(Walter Franco)
B3. Apesar de Tudo é Muito Leve
(Walter Franco)
B4. Cachorro Babucho
(Walter Franco/Chico Bezerra)
B5. Bumbo do Mundo
(Walter Franco)
B6. Pirâmides
(Walter Franco)
B7. Cena Maravilhosa
(Walter Franco/Cid Franco)
B8. Revolver
(Walter Franco)

sábado, 12 de dezembro de 2015

Belchior - Alucinação [1976]

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Por Allan Kardec Pereira em Tequila Radio

Filho de bodegueiro, sobrinho de boêmios. Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, cearense de Sobral. Cantador de feira, poeta. Seminarista por um tempo, quando de lá saiu em 1965, veio conhecer a música dos Beatles, que desde 1962 já existiam. Teve influências visíveis em sua música da poética direta de um Dylan. Afastava-se dos concretos, “A minha alucinação é suportar o dia a dia/e o meu delírio é experiência com coisas reais”, diria o poeta/cantor em Alucinação. Alguns até aproximariam esse estilo direto de canções/poesia sujas de vida do estilo de Ferreira Gullar – uma vida quase palpável, diante da voz rouca e do tom de lamúria que anos depois os Mamonas Assassinas parodiariam em “Uma Arlinda Mulher”. Flertou com os Tropicalistas, quiçá mais no sentido de recepção da música estrangeira, sobretudo os já citados Beatles e Dylan. Há claras referências musicais aos dois, embora Belchior acompanhe suas canções essencialmente dos ritmos nordestinos e cearenses – sobretudo o brega, com letras extremamente particulares.

Alucinação, de 1976, é o segundo LP de Belchior, o primeiro a garantir sucesso de público e crítica ao jovem nordestino então chegado ao sul. É visível o tom de engajamento em prol da juventude, através da evidente dicotomia entre rebeldia e repressão. Lotado de referências as mais dispares possíveis- muitas delas através de um posicionamento irônico do cantor (à algumas letras de Caetano) -, tais como Drummond Allan Poe, Manuel Bandeira; os baianos Gil e Caetano; suas influências estrangeiras, Dylan, Lennon e McCartney, além de Kubrick em referência a Laranja Mecânica.

Letras um tanto longas, declamadas com a alma em Apenas um rapaz latino-americano, canção que versa sobre a vida do próprio cantor em sua chegada a cidade grande. Talvez nos versos: “Mas não se preocupe meu amigo/Com os horrores que eu lhe digo/Isso é somente uma canção/A vida realmente é diferente/Quer dizer!/A vida é muito pior”. resida um pessimismo realista diferente do que, por exemplo gritava Caetano em “Alegria, Alegria”. Explicitado ainda mais na faixa “Fotografia 3×4″, onde os versos: “Veloso o sol não é tao bonito pra quem vem do norte e vai viver na rua…”.

“Como o diabo gosta”, “Velha Roupa Colorida” e “Como nossos pais” trabalham com essa idéia de rebeldia e leva a esperança – sempre presente, é verdade, ainda que por trás de todas as dificuldades – para um nova possibilidade de juventude. Há também falas sobre amor, amizade (“Para abraçar meu irmão e beijar minha menina na rua /é que se fez o meu lábio, o meu braço e a minha voz, em“Como nossos pais”), bem como encanto e desencanto advindo dos estranhamentos da migração nordestina para o eixo Rio-São Paulo (“Em cada esquina que eu passava / um guarda me parava / pedia os meus documentos e depois sorria /examinando o 3×4 da fotografia / e estranhando o nome do lugar de onde eu vinha”, em “Fotografia 3×4”);(“Vou ficar nesta cidade / não vou voltar pro sertão / pois vejo vir vindo no vento / o cheiro da nova estação, em “Como nossos pais”).

Para além do rock esperançoso de “Sujeito de Sorte”, prevalece em Alucinação um desencanto poético calcado em uma profunda análise de si por parte daquele que canta. Exemplificada na grande canção (na minha opinião, a mais brilhante de Belchior) “A Palo Seco”.

“E eu quero é que esse canto torto,
feito faca, corte a carne de vocês.” 



A1 - Apenas Um Rapaz Latino Americano
A2 - Velha Roupa Colorida
A3 - Como Nossos Pais
A4 - Sujeito de Sorte
A5 - Como o Diabo Gosta

B1 - Alucinação
B2 - Não Leve Flores
B3 - A Palo Seco
B4 - Fotografia 3×4
B5 - Antes do Fim

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Eloy Fritsch - Landscapes [2005]

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Por Rodrigo Werneck no Whiplash

Um movimento quase que totalmente underground hoje em dia, em especial no Brasil, o rock progressivo dá no entanto mostras freqüêntes de sobrevivência, algo que só ocorre com estilos musicais onde há consistência, e que privilegiam a criatividade e a busca por novos horizontes sonoros. Este é o caso da banda gaúcha Apocalypse, e em específico do tecladista Eloy Fritsch, cujo mais recente disco solo acaba de ser lançado.

Em paralelo à sua carreira como tecladista e líder do Apocalypse, Eloy Fritsch desenvolve uma carreira solo mais voltada à música eletrônica e ao new age. Este “Landscape” é na verdade o seu sétimo disco solo, sendo que um oitavo já chegou às lojas, a coletânea “Past and Future Sounds 1996-2006”. Entretanto, “Landscape” é o disco mais rock de Fritsch, e não nega as grandes influências de Rick Wakeman (Yes, Strawbs, David Bowie, solo), entre outras. Embora tenha sido gravado em 2003 e oficialmente saído em 2005, somente agora este disco chega às prateleiras, em virtude das dificuldades de se lançar CDs hoje em dia (problema agravado no caso de artistas de rock progressivo). Difícil de entender? Mais difícil ainda é compreender porque trabalhos tão cuidadosos, rebuscados e de bom gosto ficam restritos a um nicho deveras reduzido do mercado musical.

O disco foi inteiramente composto, arranjado, gravado e mixado por Eloy, que usou seu estúdio caseiro para tal, e o resultado é simplesmente ótimo. Alguns discos solo de tecladistas são um tanto quanto enfadonhos, sem “pegada”, mas este não é o caso aqui. Eloy soube dosar de forma equânime a participação de todos os “instrumentos”. Todas as baterias e percussões foram simuladas por seus sintetizadores, e felizmente os timbres obtidos foram muito bons. Há viradas de bateria, mudanças de andamento, ou seja, o disco em momento algum fica monótono. Há até – pasmem – solos de baixo bastante convincentes, nas faixas “Teleportation” e “Run Through The Light”, bem como sonoridades de fretless em “Oasis”.

Os principais teclados usados por Eloy no CD foram um digital, o Korg Triton Classic, e um analógico (e antológico), o Minimoog (especificamente um construído há 35 anos atrás, em 1973!). Com eles, consegue a proeza de tocar de tudo um pouco: piano, dezenas de sons de diferentes teclados, guitarras, baixos, percussões. Enfim, uma pequena “orquestra de bolso”.

Voltando às influências, algumas composições lembram bastante as do tecladista grego Vangelis Papathanassiou, como “Andromeda”, “Somewhere In Time” e “Top of The World”. Ecos de Tangerine Dream e Larry Fast e o seu Synergy podem também ser encontrados. Ou seja, nada mais nada menos que o “crème de la crème” da música eletrônica. Isso não quer dizer, porém, que o disco seja uma mera cópia dos citados artistas, pois as composições, arranjos e a performance são de um nível altíssimo.

O disco agrada tanto a ouvintes “leigos” quanto a tecladistas, já que uma verdadeira aula na escolha de sons nos é proporcionada por Fritsch. “Science Fiction” apresenta aqueles tradicionais timbres espaciais e misteriosos de um Theremin, aqui simulados com perfeição pelo teclado Triton. Sons de “clavinet” podem ser ouvidos em “Run Through The Light”, adicionando um bem-vindo e contagiante “groove”. Já em “Escape”, temos uma levada de guitarra distorcida bem convincente (tirada mais uma vez nos teclados) junto a uma batida à la “Another Brick In The Wall” (Pink Floyd), sobre o que o Minimoog sola majestoso.

A arte gráfica inclui ilustrações de Alexandre Bandeira, calcadas nas pinturas etéreas de Roger Dean, em mais uma velada referência a Rick Wakeman, incluindo peixes voadores, rochas flutuantes, e seres mitológicos. Talvez um pouco batidas, mas mesmo assim condizentes com o espírito e o tema central do álbum (“landscapes” significando as “paisagens sonoras” nesse caso).

Resumindo, um ótimo lançamento que chega a ser surpreendente. A qualidade do trabalho de Eloy Fritsch é conhecida no meio, e mais reconhecida lá fora do que aqui. Mas, sem ser pretensioso e não almejar vôos mais altos (comercialmente falando), o trabalho assim mesmo alcança altas pradarias sonoras. Altamente recomendável!


1. Landscapes
2. Teleportation
3. Andromeda
4. Science Fiction
5. Somewhere In Time
6. Cartoon
7. Run Throught The Light
8. Oasis
9. Escape
10. Imaginary Voyage
11. Top of The World

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Camarones Orquestra Guitarrística - Elefante [2015]

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Por Bruce Silva em Bota Pra Tocar

A banda instrumental norte-rio-grandense Camarones Orquestra Guitarrística lançou no início da semana seu novo EP, intitulado "Elefante", e disponibilizou o trabalho completo para download gratuito.

O compacto conta com 5 faixas em sua tracklist, as 3 primeiras foram gravadas no Family Mob, em São Paulo, como do projeto Converse Rubber Tracks, sendo 2 deles sobras de composições do álbum "Rytmus Alucynantis", lançado em fevereiro deste ano, e 1 versão para "Private Idaho", clássico do B52. Para completar o registro, o grupo também mostra 2 faixas gravadas ao vivo no Estúdio Costella, também em São Paulo. A primeira é uma música inédita gravada juntos com os paranaenses do Water Rats, com as duas bandas tocando juntas. Fecha o EP um versão ao vivo da faixa "Rytmus Alucynantis".

O lançamento acontece pelo selo digital DoSol, e a capa é assinada por Anderson Foca, guitarrista e tecladista da banda, e dono do selo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Quarto Sensorial [2009]

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Release

Formado em meados de 2007, o Quarto Sensorial é um trio instrumental porto-alegrense composto por Bruno Vargas no baixo, Martin Estevez na bateria e percussão e Carlos Ferreira nas guitarras, violões e soundscapes. O nome do grupo, explicam os integrantes, remete a um lugar onde todos os sentidos se convertem em música.

Em setembro de 2008, entraram em estúdio para a gravação do seu primeiro trabalho autoral: Quarto Sensorial EP, que pode ser conferido em www.myspace.com/4tosensorial e também está disponível para download gratuito na rede. Com esse trabalho, receberam o reconhecimento importantes nomes da música brasileira, como André Gomes, Paulinho Guitarra, Bruno Migliari, Kleiton Ramil, entre outros.

Durante dois anos consecutivos (2009 e 2010), o grupo participou das celebrações de aniversário da Casa de Cultura Mário Quintana, local de referência cultural em Porto Alegre, com o show intitulado "Tem Quarto Na Casa!". Apresentaram-se também no Fórum Social Mundial 2010, realizado no Rio Grande do Sul, e no Festival FestMalta nas Ed. 2010 e 2011, em Ibarama/RS.

Com influências que vão do jazz/fusion latino ao post-rock, passando pelo rock progressivo e pela música minimalista, é na idéia de trabalhar como um "laboratório sonoro" que o trio busca a sua própria assinatura musical, criando paisagens, experimentando atmosferas e explorando ritmos diversos.


1. Baile No Manicômio
2. Do You Wanna Funk With Me?
3. Candombaião
4. Toporaí
5. [Crisálida]

domingo, 22 de novembro de 2015

sábado, 21 de novembro de 2015

Scalene - Cromático [2012]

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Na sequência das reedições dos primeiros álbuns da banda Scalene, Real / Surreal (Independente, 2013) e Éter (Independente, 2015), o selo Slap relança nas plataformas digitais o EP de 2012, Cromático, que marcou a estreia do grupo de Brasília (DF) no mercado fonográfico. Foi através deste EP - originalmente lançado de forma independente - que a Scalene apresentou cinco músicas então inéditas (todas de autoria dos irmãos Gustavo Bertoni e Tomás Bertoni) e que abriu espaço no mercado musical brasileiro, participando de festivais e conseguindo tempos depois disputar a segunda edição do reality musical Superstar, exibida pela TV Globo neste ano de 2015. E foi pela atuação no programa da TV Globo que a banda ampliou sua visibilidade, conquistou mais público e conseguiu um contrato com o selo Slap. Só que tudo começou com Cromático, EP que projetou a música Nunca apague a luz, Cego mundo, Ilusionista, Semi-tom e Tempos modernos são as outras quatro músicas do EP disponibilizado nas plataformas digitais desde 16 de outubro de 2015.


Gustavo Bertoni – vocal, guitarra, piano
Tomas Bertoni – guitarra, teclado, vocal de apoio
Lucas Furtado – baixo, vocal de apoio
Philipe Conde "Makako" – vocal e bateria
Alexia Fidalgo – vocal

domingo, 8 de novembro de 2015

Ronnie Von - A Misteriosa Luta do Reino de Parasempre Contra o Império de Nuncamais [1969]

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Considerado por muitos sua obra prima, A Misteriosa Luta traz nuances de som progressivo, guitarras trabalhadas e um tom melancólico. A faixa de abertura, De Como Meu Herói Flash Gordon Irá Levar-me de Volta A Alfa do Centauro, Meu Verdadeiro Lar, parceria de Ronnie e Arnaldo Sacomanni, já da pistas do que vem pela frente, com um super arranjo de cordas.


A1. De Como Meu Herói Flash Gordon Irá Levar-me de Volta a Alfa do Centauro, Meu Verdadeiro Lar
A2. Dindi
A3. Pare de Sonhar Com Estrelas Distantes
A4. Onde Foi
A5. My Cherie Amour
A6. Atlântida
B1. Por Quem Sonha Ana Maria
B2. Mares de Areia
B3. Regina e o Mar
B4. Foi Bom
B5. Rose Ann
B6. Comecei uma Brincadeira

sábado, 7 de novembro de 2015

Ronnie Von [1968]

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Trata-se de um disco fantástico e diferente, onde se pode verificar a simbiose e influência do psicodelismo e da tropicália.. Disco com a participação de Liminha, que mais tarde se tornaria baixista dos Mutantes, e arranjos do maestro Damiano Cozzela, da mesma escola de Duprat. A produção do disco e a capa não negam a influência psicadélica de Ronnie. 
Nesse disco, encontra-se o clássico “Silvia 20 Horas, Domingo". 


A1. Meu Novo Cantar
A2. Chega De Tudo
A3. Espelhos Quebrados
A4. Silvia: 20 Horas, Domingo
A5. Menina De Tranças
A6. (a) Nada De Novo - (b) Lábios Que Bejei
B1. Esperança De Cantar
B2. Anarquia
B3. Mil Novecentos E Além
B4. Tristeza Num Dia Alegre
B5. Contugo, Todavia
B6. Canto de despedida

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Ronnie Von - A Máquina Voadora [1970]

 
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Máquina Voadora é um marco da música brasileira, inspirado na psicodelia dos Beatles. O disco, quase conceitual, tem como tema a aviação e faz referências aos livros escritos por Antoine de Saint-Exupéry, em particular o Pequeno Príncipe.

A1. Máquina Voadora 
A2. Baby De Tal 
A3. Verão Nos Chama 
A4. Seu Olhar No Meu 
A5. Imagens 
A6. Continentes E Civilizações 
B1. Viva O Chopp Escuro 
B2. Enseada 
B3. Tema De Alessandra 
B4. Àguas De Sempre
B5. Cidade 
B6. Você De Azul

sábado, 31 de outubro de 2015

À frente de seu tempo, Ronnie Von, o novo 'mito' da psicodelia nacional

Por Fernando Rosa em senhor f

No palco do festival Bananada 2000, em Goiânia, a banda gaúcha Vídeo Hits enlouquece a galera com a canção Silvia 20 Horas Domingo - psicodélica e, ao mesmo tempo, extremamente pop. Em um sítio em São Paulo, o grupo alagoano Mopho ensaia um novo repertório, adicionando mais informações ao seu já colorido mix sonoro, entre elas os velhos vinis psicodélicos de Ronnie Von. No centro das atenções um raríssimo e pouco conhecido álbum do cantor, lançado em 1968, com arranjos do maestro Damiano Cozzela (um dos arranjadores do primeiro álbum tropicalista de Caetano Veloso) e participação do grupo gaúcho de Jovem Guarda, Os Brasas.

As cenas, as lembranças e as referências ao álbum, que talvez surpreendam o próprio Ronnie Von, não têm sido exclusividade do momento registrado pelo senso arqueológico de Senhor F e seus antenados colaboradores. Aqui e ali, de maneira cada vez mais intensa, a obra de Ronnie Von parece estar sendo redescoberta em sua verdadeira dimensão, a exemplo da versão do Ira! para Minha Gente Amiga (que virou um sacolejante funk-latino-psicodélico, com a sempre ótima guitarra de Edgar Scandurra). Passados tantos anos de um preconceituoso e praticamente imposto anonimato, a justiça parece estar chegando para o jovem que, nos anos sessenta, foi bem mais do que apenas o Princípe da Jovem Guarda.

Um dos mais radicais beatlemaníacos, e responsável pelo batismo dos Mutantes, a quem deu força quando eram ilustres desconhecidos, Ronnie Von construiu uma tão invejável quanto pouco conhecida discografia, especialmente entre 1966 e 1972. Iniciando sua carreira no Rio de Janeiro, com apoio do grupo The Brazilian Bitles, integrou a Jovem Guarda, mas sempre esteve mais próximo da beatlemania, como não deixa dúvida seu álbum de estréia, onde sete das doze canções são de Lennon & McCartney - e outra dos Rolling Stones (As Tears Goes Bye). Não por acaso, é em seu programa de televisão, O Pequeno Mundo de Ronnie Von, que os Mutantes tiveram espaço para dar os primeiros passos da carreira, tocando Beatles ou temas clássicos com arranjos roqueiros.

De origem social mais elevada, mas nem por isso metido a besta, dono de uma beleza que provocava inveja e suspiros, e intérprete sensível e ousado, Ronnie Von, na verdade, sempre esteve além do seu tempo. Avesso a rótulos, depois do estrondoso sucesso com Meu Bem/Girl (de Lennon & McCartney), em 1966, e do estouro ainda maior do hit A Praça, ele entrou de cabeça no moderno pop, na psicodelia e, até mesmo, no progressivo, o que lhe custou a incompreensão de boa parte do público. O álbum gravado em 1968, especialmente, e os seguintes - A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais (1969) e A Máquina do Tempo (1970) radicalizaram a orientação experimentalista do cantor.

O disco com Os Mutantes (e os Beat Boys), lançado em 1967, arranjado por Rogério Duprat, traz, entre outras coisas, um cover para uma canção dos Hollies - Lullaby To Him, uma composicão de Caetano Veloso, que divide com ele os vocais, e uma enfiada de músicas estranhas. No mesmo ano de 1967, de sua parceria com o grupo Baobás que, a seguir, teve o ex-Mutantes e atual produtor Liminha entre seus membros, resultou o compacto com Winchester Catedral, em versão de Fred Jorge, e Menina Azul, em parceria com o guitarrista do grupo, Ricardo Contins. Mas foi com o disco seguinte, intitulado apenas Ronnie Von (veja na seção Discos Raros), lançado em 1968, que o Pequeno Príncipe perdeu definitivamente a inocência, desafiando padrões, fórmulas e pré-conceitos.

Com uma capa totalmente psicodélica, onde ele posa de peito nú, como uma espécie de Joe D'Alessandro (ator dos filmes de Andy Wharol) dos trópicos, o álbum não deixava dúvidas sobre o seu conteúdo musical. À frente dos arranjos estava o maestro Damiano Cozzela, de orientação e formação concretista, da mesma escola que já tinha projetado Rogério Duprat (responsável pela apresentação) junto aos Mutantes e demais tropicalistas. O repertório, coeso e instigante, trazia desde peças "espaciais" pré-Pink Floyd, como Mil Novecentos e Além/Tristeza Num Dia Alegre, pequenas sinfonias pop do porte de Espelhos Quebrados (na linha de Eleanor Rugby) e maravilhas garageiras-psicodélicas como a já citada Silvia 20 Horas Domingo, entre outras - o compacto com essas duas canções é um clássico da discografia roqueira nacional.

O disco seguinte - A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais, lançado em 1969, também com Damiano Cozzela, é menos ousado, mas contém inovações sonoras surpreendentes para a época. Nesse disco, Ronnie Von experimenta um caminho mais pop, incluindo no repertório o clássico da MPB Dindi (Jobim e Aloysio de Oliveira), Atlantis (Donovan) e I Started A Joke (Bee Gees), formatados pelos criativos arranjos de Cozzela. No disco seguinte, A Máquina Voadora, Ronnie ainda explora sonoridades que, de certa forma, anteciparam o rock progressivo nacional, que só desenvolveu-se por volta de 1972, com o surgimento de bandas como Módulo 1000, Veludo Elétrico e outras.

Em um momento musical, social e político pós-AI 5, com a Jovem Guarda esgotada e o tropicalismo sendo banido, obras de tamanha ousadia não poderiam ter outro destino senão chocar-se com a massificação alienante que já apontava no horizonte. Sem hits marcantes, os álbuns gravados entre 1967 e 1970 foram varridos das rádios e, consequentemente, das paradas de sucesso, empurrando seu autor para um longo ostracismo. Nos anos setenta, apesar de hits esporádicos, como Cavaleiro de Aruanda, bem que ele tentou retomar o tempo perdido, mas como antes, não aceitava a imposição de modelos, rótulos ou estilos pré-determinados pelo mercado.

A partir de então, incompreendido e lembrado (rotulado) mais pela beleza física do que pela música, Ronnie Von construiu uma carreira de sucesso no exterior, a partir da canção Tranquei a Vida (1976), onde se apresenta até hoje. À margem de uma digna, silenciosa e justificada mágoa, aos poucos Ronnie Von está conquistando o reconhecimento que merece, como um músico que esteve na vanguarda musical de sua época. Não é por acaso que, apesar dos transtornos históricos e da ignorância editorial das gravadoras, Ronnie Von permanece vivo até hoje no imaginário popular, alimentando velhos sonhos e fantasias e atiçando a curiosidade da parcela mais saudável das novas gerações.

domingo, 25 de outubro de 2015

Jorge Ben - O Bidú, Silêncio no Brooklin [1967]

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Por Leonardo Bomfim no Freakium & Meio

Uma das maiores lendas urbanas da música brasileira é que Jorge Ben só vale a pena com violão. Por mais que as grandes obras-primas do compositor sejam mesmo os discos da “fase acústica”, há grandes momentos guitarreiros em sua discografia. E O Bidú – Silêncio no Brooklin, disco de 1967 cheio de guitarras elétricas, permanece até hoje com uma aura especial.

Amor de Carnaval, a canção de abertura, já adianta o que está por vir. Um irresistível baião-rock cantado com um sotaque quase paulistano bem debochado. Jorge Ben estava passando um período em Sampa e Bidú veio ao mundo com sabor totalmente paulista. As letras citam bares da Rua Augusta, mulheres modernas com roupas coloridas, chuvas pesadas e ainda dialogam com o manifesto juvenil apaixonado da Jovem Guarda, a essa altura radicada na grande metrópole do país.

Na época, Jorge Ben estava muito próximo do iê-iê-iê brasileiro. Ele costumava aparecer no programa comandado por Roberto Carlos e ainda dividia uma casa com Erasmo Carlos no bairro Brooklin. Daí vem o subtítulo Silêncio no Brooklin, frase constantemente gritada por algum vizinho que não agüentava mais os ensaios da dupla. A aproximação de Ben com o pessoal da Jovem Guarda acabou até criando um mal-estar com alguns MBPbistas radicais. O compositor carioca chegou a virar “persona non grata” no programa Fino da Bossa, apresentado por Elis Regina.

Mas Ben não estava nem aí. Ele queria mesmo era fazer seu samba de guitarra e curtir a nova cidade, ao lado de sua esposa paulistana Maria Domingas (para quem dedicou vários sucessos nos discos seguintes), com seu novo carro – um Karmann-Guia apelidado de Bidú. A canção Jovem Samba explica a união do samba com a Jovem Guarda: “Eu sou da jovem samba/ a minha linha é de bamba/ o meu caso é viver bem/ com todo mundo e com você também.”

Acompanhado pelo grupo The Fevers, Bidú é um disco de um frescor pop incrível. Canções como Menina Gata Augusta (parceria com Erasmo) e Toda Colorida trazem as impressões de Ben para um novo tipo de mulher. Saía de cena a mulata carioca e entrava a paulistana moderninha. Já em Sou da Pesada, o compositor afirma em um discurso jovem-guardista ao seu modo: “Mas que nada/eu sou da pesada/…/ eu só fico triste/quando não vejo você meu amor.” No entanto, foi com Si Manda que Ben radicalizou sua poesia. A letra, cheia de gírias, berra junto com o marcante riff de guitarra: “Si manda, vai simbora/silêncio no brooklin/some, desaparece, sai da minha frente/ não quero mais você não, viu?/”. Nunca Jorge Ben soou tão agressivo.

Si Manda chamou bastante a atenção de Caetano Veloso, que estava prestes a arrombar as estruturas com a sua Tropicália. Sempre que pode, Caetano afirma que Bidú é um dos discos mais importantes de todos os tempos, chegando até a exagerar dizendo que Si Manda era tudo que ele e Gil gostariam de ter feito e não conseguiram.

Bidú acabou sendo o disco mais underground de Jorge Ben, gravado quase clandestinamente fora da gravadora Phillips, que não se interessava em lançar nada do carioca longe do violão. Apesar de não chegar perto da qualidade de clássicos como o homônimo de 1969 e A Tábua de Esmeralda, Bidú teve grande importância pois confirmou a multiplicidade musical de Ben, e ainda estreitou laços com o parcela roqueira do Brasil. Logo depois do disco, o compositor carioca presenteou os Mutantes e Os Incríveis com as sensacionais A Minha Menina e Vendedor de Bananas, respectivamente. Para a sorte de todos – menos do vizinho mala – a partir dali não haveria silêncio no Brooklin e em nenhum lugar do Brasil. Violão, guitarra, samba, rock, Jovem Guarda e Tropicália A bagunça já estava armada.


A1. Amor de carnaval
A2. Nascimento de um príncipe africano
A3. Jovem samba
A4. Rosa mais que nada
A5. Canção de uma fã
A6. Menina gata Augusta
B1. Toda colorida
B2. Frases
B3. Quanto mais te vejo
B4. Vou andando
B5. Sou da pesada
B6. Si manda

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Tony & Frankie [1971]



Por Samba e Soul

A dupla de cantores paulistas Luís Antonio Bizarro, o Tony e Fortunato Arduini, o Frankye, se esbarraram pelas andanças na boate Cave, reduto dos músicos que tocavam soul music em São Paulo e na formação do conjunto Top Five, em 1968 radicaram-se no Rio e logo gravaram dois compactos que chamaram a atenção de Roberto Carlos e de gravadoras, um deles contém a primeira gravação de “Adeus, Amigo Vagabundo” incluída no disco solo de Tony (Nosso Inverno / CBS, 1977) e a encantadora “Viu, Menina”.

Em seguida, partiram para o registro de seu único, precioso e disputado álbum intitulado singelamente de Tony & Frankye (CBS, 1971) em uma atrevida mescla de soul, funk, ritmos latinos e toques de psicodelia, sob a direção artística de Raul Seixas, com composições próprias e de outros autores como Tim Maia, Raulzito, Luis Vagner, Robson Jorge, Carlos Lemos, Getulio Cortes, entre outros. A bolacha abre com a dinamite “Vou Procurar Meu Lugar” versão do duo para "Thank You (Falettinme Be Mice Elf Again)" de Sly Stone, segue com o forró “Vamos Lá Prá Ver“, que foi um dos seus maiores sucessos, passa pela latinidade de “Patati, Patatá” em homenagem ao guitarrista Carlos Santana, pelas lisérgicas “Trifocal”, “Depois Da Chuva No Posto 4” e “O Uriapuru”, nas letais que botam prá derreter “Broken Heart” e “Alma Brasileira” em versão instrumental, sem contar as baladas poéticas de “Hoje É Quarta-Feira”, “Estou Perdido No Meio da Rua”, “Que Eu Acabei Com Nosso Amor” e “Canção de Esperar Você”, que fecha o LP.

Infelizmente a dupla se desfez prematuramente com a saída de Frankye um ano após o lançamento do disco, que assumidamente alucinou ao tomar ácido e cair na estrada por uns quatro anos.


A1. Vou Procurar O Meu Lugar
A2. Depois da Chuva no Posto 4
A3. Que Eu Acabei com Nosso Amor
A4. Vamos Lá prá Ver
A5. Hoje é Quarta-Feira
A6. Alma Brasileira

B1. Estou Perdido no Meio da Rua
B2. Trifocal
B3. Patati, Patatá
B4. O Uirapuru
B5. Broken Heart
B6. Canção de Esperar Você

domingo, 18 de outubro de 2015

Alceu Valença & Geraldo Azevedo [1972]

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Gravado nas horas que sobravam na madrugada dos estúdios paulistanos da Copacabana em 1972,o álbum "Quadrafônico" se tornou um dos mais importantes discos brasileiros por revelar ao mesmo tempo duas figuras de proa da MPB, como: Alceu Valença e Geraldo Azevedo

Apesar de ser conhecido como Quadrafônico, o disco originalmente se chama Alceu Valença & Geraldo Azevedo. O grande e luminoso Quadrafônico no alto da capa dizia respeito à tecnologia de som que era novidade na época e com o qual foi feito o disco.


A1. Me Dá Um Beijo – (Alceu Valença)
A2. Virgem Virginia – (Alceu Valença – Geraldo Azevedo)
A3. Mister Mistério – (Geraldo Azevedo)
A4. Novena – (Geraldo Azevedo – Marcus Vinicius)
A5. Cordão do Rio Preto – (Alceu Valença)
A6. Planetário – (Alceu Valença)

B1. Seis Horas – (Alceu Valença)
B2. Erosão – (Alceu Valença)
B3. 78 Rotações – (Alceu Valença – Geraldo Azevedo)
B4. Talismã – (Geraldo Azevedo – Alceu Valença)
B5. Ciranda de Mãe Nina – (Alceu Valença)
B6. Horrível – (Alceu Valença)

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Erasmo Carlos - Carlos, ERASMO... [1971]

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Por Ricardo Alexandre, Bizz#181, agosto de 2000 *

A composição genética da milionária parceria Roberto e Erasmo Carlos não é o que se pode chamar de divisão igualitária - o primeiro ficou com o mito, com a multidão e a gritaria; ao outro restou o risco e o status de cult. Comparando a carreira dos dois amigos, fica claro que tudo o que o Rei levou às paradas já havia sido testado pelo Tremendão. Iê-iê-iê romântico, temas religiosos, MPB velha-guarda, soul, funk, música de motel: qualquer uma destas e muitas aventuras mais, Erasmo experimentou antes, como o operário da música que sempre foi, cheio de simpatia, convicção e entusiasmo.

O início dos anos 70 ajudou a intensificar a diferença entre ambos. A Jovem Guarda já era passado e, enquanto Roberto partia para um público adulto, ganhando ares de artista sério e respeitado até pelo Pasquim, Erasmo se viu sem gravadora, sem programa na TV e sem hits nas rádios. Aproveitou para cair na vida - conheceu as drogas, o álcool, a mulherada - "só em quantidade", como admitiu depois. Foi quando surgiu o convite para integrar o elenco da Phonogram (mais tarde Polygram e atual Universal Music), com liberdade absoluta para compor e gravar o que bem entendesse. Erasmo cercou-se dos melhores músicos e técnicos da época e registrou Carlos, Erasmo, um disco que, a partir do título, servia como uma declaração de sua identidade, de suas ambições e possibilidades como artista.

Desde a faixa de abertura, "De Noite, Na Cama", de Caetano Veloso, fica claro que Erasmo havia crescido - um berimbau marcando o ritmo, uma guitarra espertíssima costurando a melodia, um piano herdado da pilantragem, uma rapaziada amiga fazendo o coro e ele com a voz encharcada de suavidade e segurança. A partir daí, o LP segue jornada aventurosa e radical, indo da balada cama-e-mesa de "Masculino, Feminino" ou da cacetada psicodélica de "Ninguém Chora Mais" para a apocalíptica "Sodoma e Gomorra" ou para o funkão"Mundo Deserto". Impossível não se impressionar ainda com os vertiginosos arranjos de cordas na pesadíssima "Dois Animais na Selva Suja da Rua" ou com a climática e hippie "Gente Aberta".

Nunca Erasmo arriscou tanto, nem se deu tão bem, quanto nesse seu sétimo álbum. Tais guinadas soam absolutamente imperceptíveis ouvindo o disco como um todo. Os arranjos musculosos, inteligentes e virtuosos do LP em nada lembram os temas pueris que os contemporâneos de Jovem Guarda continuaram gravando. Se o tropicalismo havia transformado o iê-iê-iê em coisa das antigas, Carlos, Erasmo conseguia soar ainda mais maduro e brutal que a própria Tropicália, jogando rock pauleira, folk, funk e soul à geléia geral - se valendo de vários tropicalistas, como boa parte dos Mutantes, o guitar hero Lanny Gordin ou o maestro Rogério Duprat.

Como se as ousadias musicais não fossem poucas, até os vapores da cannabis foram tratados por Erasmo, na divertida "Maria Joana" - "eu quero Maria Joana", canta ele, maroto, sobre uma rumba lisérgica da Caribe Steel Band.
Além de Carlos, Erasmo, o Tremendão gravou vários discos básicos em sua carreira, como Erasmo Carlos & Os Tremendões (1969), Sonhos e Memórias (1972) e Banda dos Contentes (1976). Mas Carlos, Erasmo permanece como seu trabalho mais dinâmico, espiritualizado e intrincado; o melhor passaporte para se entender a genialidade de Erasmo como um dos maiores e mais subestimados nomes do pop brasileiro em todos os tempos.


1 De Noite, Na Cama
2 Masculino, Feminino
3 É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo
4 Dois Animais Na Selva Da Rua
5 Gente Aberta
6 Agora Ninguém Chora Mais
7 Sodoma E Gomorra
8 Mundo Deserto
9 Não Te Quero Santa
10 Ciça, Cecília (Tema De Ciça)
11 Em Busca Das Canções Perdidas Nº2
12 26 Anos De Vida Normal
13 Maria Joana


*Agradecimento a CollectorsRoom por republicar essa resenha.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Vanuza [1969]



Por Anderson Nascimento no Galeria Musical

O segundo álbum da cantora Vanusa é o fabuloso álbum psicodélico de 1969, que por si só, merece uma abordagem futura mais completa. O disco já inicia explosivo com “Meu Depoimento” (Fábio, Paulo Imperial), e segue com a ótima “Que Você Está Fazendo Neste Lugar Tão Frio?” (Tom Gomes, Luis Vagner). Entre os outros (muitos) destaques estão “Sunny” (Bob Hebb), “Hey Joe” (Demetrius) e a regravação de “Caminhemos” (Herivelto Martins). A versão remasterizada lançada em 2015 pelo selo Discobertas agrega duas faixas bônus: a linda “Comunicação”, tirada de um compacto duplo de 1969 e “A Tristeza Terminou” (Vanusa, Juca), extraída do álbum “Disparo de 70” (1970).



A1 Meu Depoimento (Fábio / Paulo Imperial)
A2 Que Você Está Fazendo Neste Lugar Tão Frio (Tom Gomes / Luis Vagner)
A3 O Que É Meu É Teu (Sílvio Brito)
A4 Teu Regresso (Fábio / Paulo Imperial)
A5 Espere (Carlos César / Alexandre Cirus)
A6 Hei Sol (Dom)

B1 Atômico Platônico (Jean Pierre / Fernandes)
B2 Sunny (Bobby Hebb)
B3 Eu Sei Viver Sozinha (Vanusa / Juca)
B4 Hey Joe (Demétrius)
B5 E Você Não Diz Nada (Meirecler)
B6 Caminhemos (Herivelto Martins)

domingo, 11 de outubro de 2015

Carona na psicodelia dos anos sessenta

Por Fernando Rosa no Senhor F

Em 1966, o conjunto Loupha, de São Paulo, ganhava o Primeiro Festival Nacional de Conjuntos da Jovem Guarda, injetando psicodelia no mundo ainda comportado da Jovem Guarda. Mas, engana-se quem pensa que Roberto Carlos e sua turma e músicos de outros gêneros não deram sua "pegadinha" na lisergia que inundou o mundo a partir de 1967.

O caso mais inusitado é, talvez, o da cantora Vanusa, conhecida por suas gravações de Jovem Guarda. Em 69, no entanto, ela apostou num mix de soul e psicodelia, no álbum 'Vanusa'. Com voz "Grace Slick" (cantora do Jefferson Airplane), ela canta o clássico 'Atômico Platônico' e outras canções, com orquestras e guitarras distorcidas.

Outro que saltou da Jovem Guarda para dentro do caldeirão psicodélico foi o Tremendão Erasmo Carlos. Em 70, acompanhado dos Mutantes, Lanny Gordin e Rogério Duprat gravou o raro 'Carlos, Erasmo'. Entre outras, ele canta 'Agora Ninguém Chora Mais', com fuzz-guitar de Lanny.

Em 72, antes de comandar a "invasão nordestina", a dupla Geraldo Azevedo e Alceu Valença desembarcou no Sul, reverberando tropicalismo e psicodelia. Com arranjos de Rogério Duprat, apresentavam um tímido aperitivo da futura e explosiva mistura em canções como 'Me Dá Um Beijo' e 'Mister Mistério'.

A dupla Tony & Frankye destacou-se no que se chamou de funk-soul, produzido na primeira metade dos anos setenta. Em seu único álbum, produzido por Raul Seixas, usam e abusam de guitarras ultra-psicodélicas. A música 'Trifocal', de Raulzito, é o melhor exemplo do que se poderia chamar de funk-psicodélico brasileiro. Ele também gravaram um compacto com a música 'Adeus, Amigo Vagabundo', em tributo a Brian Jones (ex-Stones).

Cantora e compositora, a bela Luiza Maria gravou um fantástico disco em 1974, desaparecendo inexplicavelmente a seguir. Com participação de Lulu Santos & Vímana, Rick Ferreira e Antônio Adolfo, entre outros, ela envolve suas canções com delicados climas psicodélicos. Para conferir: 'Maya', com solo de Lulu, e 'Universo e Fantasia'.

O samba - via o Jorge Ben (67 & 69), especialmente o disco gravado com The Fevers, em 67 - também entrou na onda, enquanto o jazz-bossa instrumental produziu seus clássicos psicodélicos, do que é destaque o LP 'Som Psicodélico', como o grupo Fórmula 7, formado por Hélio Delmiro (guitarra), Cristóvão Bastos (piano) e outras feras.

Os Íncríveis também tiveram seu momento garageiro-psicodélico, especialmente no álbum 'Os Incríveis Neste Mundo Louco". O crédito para essa inclusão se deve às geniais fuzz-guitars de Mingo e Risonho. E também pelo repertório, que junta The Troggs com The Rokes (italiano) e Los Brincos (espanhol).