quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Entrevista com Robertinho do Recife

A entrevista não é tão recente mas vale o registro já que é difícil esse tipo de material. Realizado em agosto de 2011 para a Tv Cifras.

Suzana Flag - Fanzine [2002]


* Marcelo Costa

A música pop tem o dom de transformar as coisas mais abjetas em sucesso de massa ao mesmo tempo em que renega coisas geniais que correm o risco de passar desapercebidas do grande público. Como disse sabiamente José Emilio Rondeau um dia, "um bilhão de Robertos e Erasmos para cada Arnaldo Baptista". Esse foi o primeiro pensamento que surgiu após uma audição de Fanzine, primeiro álbum da banda paraense Suzana Flag. O combo de Belém do Pará faz um (pop) rock de extrema qualidade, em que guitarras comportadas e eficientes fazem a cama para as vozes de Elder (também baixista) e Susanne. É o tipo de som que deveria estar ocupando um lugar de destaque nas rádios brasileiras.Fanzine foi lançado originalmente em 2002, como CDR.

Esgotou rapidamente as 500 cópias e a banda decidiu fazer uma nova prensagem mais profissional (mas ainda artesanal), que viu a luz do laser em 2004. O encarte caprichado traz as boas letras enquanto a contracapa conta detalhes da aventura: o disco foi gravado no quintal da casa do guitarrista, com dois aparelhos de mini-disc, uma mesa de oito canais, uma pedaleira, um gravador de rolo e um teclado simulando bateria eletrônica. Parece tosco? Parece, mas não é. A banda passou quase um ano no processo de gravação caseira, o que acabou dando um punch maior aos arranjos. No final, o disco saiu redondinho e cheio de músicas perfeitas para se tocar em rádios, botecos e acampamentos, melodias juvenis como a brisa antes de se transformar em vento.

A unidade do repertório é tão grande que é impossível indicar apenas uma faixa de Fanzine. Dá para dizer que entre Ludo (a música que abre o disco) e a versão ao vivo de Eu Vou Lembrar de Você (faixa bônus gravada ao vivo no estúdio da Rádio Cultura da cidade), o rock nacional tem onze motivos para olhar com admiração para o Pará e se render ao som do Suzana Flag. Quem quiser dar uma conferida no som da banda.
de: MP.Org

terça-feira, 22 de novembro de 2011

As lendas dos ‘convites internacionais’ estão de volta

*Marcelo Moreira

Sempre me incomodou o fato de músicos brasileiros trombetearem por aí que foram convidados a fazer parte de bandas de rock norte-americanas ou inglesas, sendo que alguns solenemente recusaram tais deferências para manter “independência artística”, “foco no trabalho autoral” e outros eufemismos gastos e falaciosos.

As lendas são várias no meio artístico nacional, envolvendo gente como Robertinho do Recife, Pepeu Gomes e mais alguns eleitos por aí. O que realmente incomoda é que as histórias carecem de confirmação por outras fontes. Aí fica difícil separar a lenda da realidade.

Pepeu Gomes, guitarrista virtuoso e bastante conceituado na MPB, está prestes a completar 60 anos de idade. Além da carreira solo, fez parte do cultuado grupo Os Novos Baianos, ao lado de gente como Moraes Moreira e Paulinho Boca de Cantor. O grupo gravou aquele que especialistas dizem ser o melhor álbum de MPB de todos os tempos, “Acabou Chorare”.
Não bastasse isso, o guitarrista arrancou aplausos e surpreendeu roqueiros e metaleiros fanáticos no Rock in Rio I, em 1985, ao fazer uma apresentação praticamente instrumental, com diversas referências roqueiras nos solos e na estrutura das “quase” jams. É um músico que, a despeito do tipo de música comercial que fez nos anos 80, merece respeito como instrumentista.

E não é que ele resolve alimentar as lendas em torno de si em uma entrevista à revista Rolling Stone Brasil, edição de novembro de 2011? Relembrou a época em que teria recebido um convite para entrar no Megadeth, nos anos 90, além de outro, para substituir Vernon Reid no Living Colour…

A coisa foi além. Pepeu Gomes disse que foi convidado para “substituir Dave Mustaine (só o dono da bandas)”, mas recusou porque “teria que mexer em muita coisa no que eles fizeram e gravaram, ou iriam gravar”…

Em relação ao Living Colour, também disse que foi convidado, mas que recusou porque teria de bater de frente com o vocalista Corey Glover, “um músico de personalidade forte”. Ao recusar os dois convites, disse que preferiu se concentrar no sucesso da trilha sonora de uma novela da Globo, um dos remakes de “Mulheres de Areia”.
Por mais que se pesquise bastante, em tempos de internet, não se acha uma confirmação desta história, não se encontram outras fontes que possam corroborar os convites. As lendas são conhecidas desde os anos 80, mas sempre faltou aquele algo mais que pudesse confirmar de forma singela que Pepeu, por exemplo, tivesse recebido tais convites.

Apesar da desconfiança, manterei a elegância de não desqualificar totalmente as lendas. Da mesma forma que há dificuldades em confirmar as histórias, não se pode afirmar categoricamente que Pepeu Gomes seja um mentiroso ou um lunático. Portanto, deixo abertas as portas para que a confirmação surja de algum ponto que não seja o próprio músico garganteando os convites que diz que recebeu.

Outra história que merece uma checagem é o suposto convite do Whitesnake, de David Coverdale, a Paulo Zinner para integrar a banda, isso também nos anos 80, quando a banda inglesa vivia no entra-e-sai de músicos, em especial de bateristas.

As conversas no meio musical davam conta de que houve um convite formal, já que Tommy Aldridge, um monstro das baquetas, estava deixando o grupo. A coisa não foi para frente porque haveria complicações de ordem “legal e trabalhista”, já que Zinner não possía visto de trabalho.
Paulo Zinner
Mais tarde, a lenda mudou um pouco e o que era convite se transformou na possibilidade de o baterista brasileiro realizar um teste para substituir provavelmente Aysley Dunbar, que entrou lugar de Cozy Powell e que antecedeu Aldridge. O teste, arranjado por gente do meio roqueiro nacional com amizade com a equipe de produção do Whitesnake, não ocorreu devido a problemas de documentação e visto…

Seja como for Zinner, que eu me lembre, nunca tocou no assunto em público. Nas poucas vezes em que estive com ele o assunto não surgiu, até porque havia muito mais coisas importantes a perguntar e conversar, como o seu trabalho com o Golpe de Estado, com Rita Lee, com o Fickle Pickle e o seu projeto Rockestra.

A diferença neste caso é que o baterista se mantém discretíssimo sobre o assunto, embora a lenda tenha crescido nos anos 90. Seja como for, não para cravar que sela lorota, mas ainda faltam pontos a serem ligados para que a história deixe de ser lenda. As portas do Combate Rock estão igualmente abertas para que haja tal confirmação.

domingo, 20 de novembro de 2011

Overdose - Século XX [1985]

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Anjos do Apocalipse


"O primeiro anjo sua trombeta tocou
Fogo e sangue, sobre a terra se lançou
Florestas, campos e vales
Todo o verde se queimou
E o segundo anjo se pronunciou
Morte na água o que se viu
Uma bola em chamas no mar caiu
Toda a água da terra secou
Quando o terceiro anjo tocou
Poucos vão escapar 
E quatro anjos ainda vão tocar
Agora estão condenados
Pagarão por seus pecados
Os anjos vieram tocar
E o fim anunciar
O quarto anjo começou a tocar
Sol e lua pararam de brilhar
Nem dia nem noite
Trevas por todo o lugar
E o quinto anjo se fez escutar
Voando nos céus terriveis dragões
E sobre a tera ferozes leões
Doenças e pragas se espalhou
Quando o sexto anjo tocou
poucos vão escapar
Um anjo ainda vai tocar
Agora estão condenados
Pagarão por seus pecados
Os anjos vieram tocar
E o fim anunciar
Então, as nuvens se abriram
Num firmamento
Toda a Terra se calou
Por um momento
Uma voz do além se fez escutar
Antes que o ultimo anjo começasse a tocar
Nenhum anjo mais vai tocar
Poucas vidas vão se salvar
A esses escolhidos a força pra recomeçar
E os erros do passado
Tentar evitar, para que nunca mais
Os anjos do apocalipse venham tocar"


Álbum de estréia dessa ótima banda mineira de metal. Formada em 1983 a banda lançou em 1985 esse slipt álbum com o também estreante Sepultura, de um lado ficou "Século XX" e do outro "Bestial Devastation".

A banda gravou mais 6 álbuns, com quase todas as músicas em inglês, sendo "Século XX" o único exclusivamente cantado em português. O reconhecimento do ótimo trabalho veio em 1993 quando gravou seu sexto álbum pela gravadora norte-americana "Futurist Label Group". Esse acordo lhe rendeu grande visibilidade internacional fazendo com que e 1995 a banda realizasse 90 shows internacionais. O álbum "Scars" chegou a segunda colocação nas rádios de rock norte-americanas.

Mais uma grande banda de metal pouco reconhecida em terras brasileiras.

A formação do "Século XX" contava com:
Bozó - vocal
Claudio David - guitarra solo
Ricardo - guitarra base
Fernando Pazzini - baixo
Hélio Eduardo - bateria


Discografia oficial:
1985 - Século XX / Bestial Devastation (slipt LP com o Sepultura)
1986 - Conscience...
1989 - You're Really Big
1990 - Addicted to Reality
1992 - Circus of Death
1993 - Progress of Decadence
1995 - Scars

Nasi - Onde Os Anjos Não Ousam Pisar [2006]

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Ótimo trabalho do Nasi em carreira solo. Já havia gravado outros álbuns com Os Irmãos do Blues mas esse foi definitivamente o primeiro só com seu nome da capa. Álbum experimental com bastante pegada no blues.

É ouvir e gostar.

Lobão critica Lollapalooza

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Entrevista com a Plebe Rude em 17/11/2011

*Por Leandro Saueia

Foi no finzinho de 1985 que as lojas de discos receberam um duplo novo lançamento. Um "mini Lp" com sete faixas de uma banda brasiliense chamada Plebe Rude. Na verdade o quarteto não era uma novidade para quem estava ligado no movimentado cenário do rock nacional da época. Estes já sabiam que ao lado da Legião Urbana, então já fazendo sucesso, e do Capital Inicial a Plebe era a outra grande banda a sair de Brasília.

Em 1986 eles estouraram com direito a shows lotados, vendas acima de 300 mil cópias e até abriram os shows da turnê nacional de Siouxsie and the Banshees, um dos primeiros shows de "rock alternativo" que esse país viu.

Nos anos seguintes a banda teve que lutar de forma dobrada. Primeiro com a situação econômica do país que afundou de forma assustadora já em 1987 e também entre eles. Em meados dos anos 90 a banda melancolicamente anunciou sua separação e parecia que tudo iria ficar por aí mesmo. Até que no final da década subitamente o rock de Brasília voltou a ser valorizado. Como Renato Russo já havia morrido coube primeiro ao Capital Inicial reclamar a bandeira para si. Mas cada vez mais sentia-se falta da outra grande banda. E assim no ano 2000 a formação original se reuniu para shows e um álbum ao vivo.

Não demorou muito para os velhos problemas voltarem á tona. Mas dessa vez o guitarrista Philippe Seabra e o baixista André X não iriam deixar tudo ir abaixo de novo. A dupla chamou novos integrantes (incluindo o líder dos Inocentes Clemente) e seguiu em frente.

Parte dessa história, e a dos outros dois nomes principais do rock do planalto, é contada no documentário "Rock Brasília - Era de Ouro" que ainda está em cartaz nos cinemas de algumas cidades.

Foi para falar do filme e relembrar mais de 30 anos de história que falamos com Philippe Seabra. O resultado foi um papo longo e bastante instrutivo.

Pra começar queremos saber qual a sua opinião sobre o filme "Rock Brasília - Era de Ouro" que está em cartaz nos cinemas.

Para a Plebe, o timing foi perfeito. O "Concreto Já Rachou" está completando 25 anos e prestes a ser relançado e estamos fazendo 30 anos, comemorados num DVD que acabou de ser indicado ao Grammy. O documentário retrata muito bem a época, e ninguém a não ser o Vladmir (Carvalho o diretor) poderia ter contado essa história. Eu e o André X, baixista e fundador da Plebe, adoramos. Finalmente essa história está sendo contada sem romantismo.

O filme consegue sintetizar bem o que foi aquele momento?

Certamente. Em Brasília, nossa realidade não era a da "new wave" colorida do Rio. Era cinza mesmo. Não tinha nada para fazer, numa cidade com até então, menos de 20 anos. Nós tinhamos que mandar músicas para a censura e de vez em quando apanhávamos da polícia. O filme mostra muito bem o que se passava nos bastidores de Brasília e como isso afetaria a temática dessas bandas.

O Vladimir preferiu focar apenas nas "três grandes bandas". O que você achou dessa abordagem? Será que grupos menos conhecidos como o Escola de Escândalos ou Finis Africae poderiam ter entrado?

O Escola é mencionado no flme, mas o Finis chegou depois. Até entendo a decisão do diretor de optar a focar nas três. Foram essas que tiveram projeção nacional e deram a Brasília a sigla "Capital do Rock". Vale lembrar que ja teve uma infinidade de bandas antes (e depois) dessa explosão mas citando o Mano Vladmir (é assim que eu o chamo) foi o rock dessa turma que "exportou Brasília". E no fundo é mesmo, as outras bandas não eram lá muito impactantes.

Olhando em retrospecto o que você acha que a Plebe trouxe de diferente para o rock brasileiro?

Acho que conseguimos traduzir a nossa angústia e frustação de maneira lúcida, e pelo visto, isso ressoou com muitos jovens. As letras eram bastante diretas, mas não didáticas como "eu odeio tudo" ou ingênuas como "abaixa o governo" e "morte ao sistema". Isso talvez tenha vindo da erudição dessa turma - que lia muito e via filmes de arte - que ficou impresso na gente por causa dos nossos pais acadêmicos. Ninguém ali era filho de ministro ou de dono de estatal. Eram professores e diplomatas assalariados, funcionários públicos. Isso está retratado bem no filme.

Você enxerga a influência do grupo em alguma banda surgida depois de vocês?

Muitas bandas surgidas na década de 90 curtiram a Plebe. Detonautas e CPM 22 citam a gente como influência. A galera do Cidade Negra, Charlie Brown, Skank e Jota Quest já me falou pessoalmente da admiração pela banda. O Chico Science e os Raimundos adoravam e o Marcelo Yuka chorou de emoção quando participou de um show nosso. Até o Herbert Vianna disse ter se inspirarado nas nossas apresentações ao vivo. Da geração nova, bandas como Vanguart e Los Porongas também nos curtiram.Ficamos muito lisonjeados (apesar de nem sempre perceber a influência no som de alguns desses artistas) e é bacana saber que a banda é respeitada também pela trajetória de jamais ter cedido às pressões comerciais.

Há a impressão de que das três bandas brasilienses a vida da Plebe sempre foi a mais complicada na hora de lidar com gravadora, imprensa e com o grande público. Você concorda?

(Risos) Sempre. A Plebe tem a reputação de ser uma das bandas mais difíceis, mas na verdade somos muito ranquilos. O que não pode acontecer é alguém tentar dizer para você o que fazer. No filme, as cenas da batalha da Legião contra a gravadora no primeiro disco, mostram exatamente como era na época. Queriam que eles fossem tudo, exceto a Legião.

Hoje em dia os ex-diretores artísticos da época adoram tomar crédito por ter descoberto aquilo (na verdade, tem que ser muito burro para não se ver a força daquelas canções) mas eram mesmo um bando de burocratas que não tinham a mínima noção do que estava acontecendo com a música popular brasileira. Então quando a gravadora tentava empurrar uma música do Cazuza para a gente gravar ou insistir que gravássemos um programa de TV que não tinha nada a ver, é claro que brigávamos.

Em retrospecto, mesmo vendendo meio milhão de cópias, nunca fomos tratados como prioridade. Também, pudera, né? Mas quando pessoas e artistas chegam para a gente e falam da importâcia da banda nas suas vidas, essa coerência na postura certamente faz parte. O Herbert vivia dizendo para a gente, "vocês são punks... Vocês são burros, mas vocês são punks!" (risos)

Agora em relação com a imprensa, com a exceção e um ou outro jornalista paulista da finada (revista) Bizz, sempre fomos muito bem tratados. No nosso site (www.pleberude.com.br) está o acervo todo de imprensa da banda. 30 anos de matérias de jornal e revista e isto pode ser comprovado. Engraçado que um desses jornalistas da Bizz chegou para mim muitos anos depois dizendo como gostava da gente e me admirava com guitarrista. E eu perguntei "então por que não disse nada na época?". Ele respondeu, "Sabe com é, né?" (risos)

Já com o "grande público", nunca tivemos problema. É que nós temos um senso de humor bastante peculiar. E quem não entende, acaba se ofendendo... (risos)

A Plebe não é uma banda "popular". Nunca recheamos o repertório de canções consagradas dos outros. Não fazemos "la la la" para todos cantarem juntos. E se alguém foi no show para ouvir somente a música que ouviu na rádio, então é melhor ir para a feira agropecuària (risos).

De todas as bandas com disco de ouro, a Plebe é de longe a menos comercial. E olha o que a banda conseguiu: Este ano eu e o André X recebemos o título de Cidadãos Honorários de Brasília e o atual governador fez questão de nos comprimentar depois da exibição do documentário. Até tema de novela da Globo, ano passado fomos e isso sem arredar um centímetro da proposta inicial. Conclusão: vale a pena ter princípios.

Uma curiosidade: Se o "Concreto Já Rachou" fosse ser lançado como LP e não um mini-álbum que músicas iriam completá-lo?

Engraçado. Nunca me perguntaram isso. No filme falo a respeito desse "novo" produto que a EMI queria por no mercado, o tal mini-lp. Sugerimos que fosse de 10 polegadas, tipo o "Black Market Clash", do The Clash. Além de ser menor, mais fácil de transportar e usar menos papel para capa e encarte, ele também teria a vantagem do lojista manter o preço mais barato. Mas é claro que a gravadora não nos ouviu, e lançou o album de 7 faixas no tamanho de um album completo. Os lojistas cobraram preço normal, mas mesmo assim vendeu mais de 300 mil copias. Antes dessa história de mini-lp estávamos preparados a incluir Bravo Mundo Novo, Censura e 48. Discão que seria, hein? (risos)

E a gente só conseguiu colocar Brasília (de onde tiramos o título "O Concreto ja Rachou") porque o Herbert (que produziu o disco) brigou lá dentro. Era para ter 6 faixas apenas!

Você acha que ele ficaria melhor assim ou de repente essa coisa de só ter 7 músicas deixou o álbum bem mais forte?

Não sei, mas teria tido o mesmo impacto. E com a eventual censura da música Censura (que acabou censurada quando entrou no disco posterior) ele aí não só seria clássico, mas seria maldito (risos). Ter uma música censurada é ótimo para vendas. (risos)

Como era a relação entre vocês e a Legião - o Renato em particular? A amizade sempre se manteve ou ela esfriou a partir de determinado momento?

A Plebe era a banda predileta do Renato. No documentário tem uma cena da qual ja tinha me esquecido.
Quando a Legião se apresentou no programa da Globo "Chico e Caetano" ele tá com uma camisa nossa.
Sempre fomos amigos, mas a fama e as drogas acabaram lhe afastando da gente. Uma pena, pois ele foi mais feliz quando era um anônimo trovador solitário. Essa fama toda, essa adoração toda, para ser infeliz? Será que vale a pena?

A cena dos anos 80 teve essa coisa peculiar onde os discos lançados em 1986 vendem horrores por causa do Cruzado 1 (que congelou os preços por um ano) enquanto os que saíram em 1987 e além sofreram na mesma proporção por causa dos outros planos econômicos. Você acha que se o cenário econômico tivesse se mantido estável discos como "Nunca Fomos Tão Brasileiros" (e na verdade quase todos discos de rock nacional do período) teriam tido melhor sorte nas prateleiras?

Quando o boom do rock brasileiro rolou, e é fácil se esquecer disso, só dava rock. Era rock pra lá e rock pra cá... Nos anos seguintes as gravadoras empurravam goela abaixo cada porcaria... Quando a gente reclamava da era Axé, ou da era Sertaneja, quando só dava isso na mídia... com o rock foi a mesma coisa. Foi uma bolha sim, e só o que era bom ficou. Mas no nosso caso estávamos sofrendo com o distanciamento do Jander e das ratices do baterista. Mas sempre vendemos bem na proporção que a economia permitia. Infelizmente a gravadora não via assim. Uma queda de venda é uma queda de venda para eles, independente do cenário econômico, que por sinal ia de mal a pior. Um verdadeiro pesadelo...

O Renato falava que quando achávamos que estávamos num trem para a Disneylândia, na verdade era para Auschwitz.

A partir de 1988/1989 o cenário se tornou ainda mais fechado. Foi difícil levar a banda nessa época?

Com o desmoronamemto na relação interna da banda, sim. Mas o nosso terceiro disco estava vendendo melhor do que muita banda na época, inclusive o Barão. Mas, mais uma vez, a gravadora não via isso. Se a banda estivesse mais unida até que daria para segurar, mas a comunicação estava difícil. As coisas são o que são, e hoje agradeço não ter mais esse clima na banda, nem na minha vida. Na época, apesar da gravadora nos tratar como merda, a culpa foi interna mesmo. Um pena.

A Plebe também foi a banda que mais contato teve com a cena punk paulista. Vocês dividiram o palco com o Cólera e agora até estão com o Clemente dos Inocentes entre os seus integrantes. Como se deu essa aproximação?

Sempre fomos ligados no punk paulista. Inclusive o Clemente foi o primeiro punk que conhecemos de São Paulo. Digo isso literalmente, pois ele quem foi nos buscar na rodoviária no nosso primeiro show em SP, no encerramento da lendária casa punk, Napalm. Fazíamos muitos shows com os Inocentes em São Paulo e no Rio, no Circo Voador. E com o Cólera também. Eu tocava bateria em Medo de vez em quando.

A morte do Redson deve ter sido dura pra você...

Foi o Clemente quem me ligou para informar da morte do Redson (o vocalista do Cólera morreu no dia 27 de setembro), e até hoje não entra na minha cabeça que não vou vê-lo mais. Muito triste. A inclusão de Medo no nosso repertório sempre foi uma homenagem ao grupo. Agora, creio eu, será um atestado ao legado de uma cara que jamais comprometeu sua integridade. Redson vai fazer falta. Ele tinha uma dedicação a mensagem como poucos. Tocamos Medo em Santo André recentemente e foi difícil segurar as lágrimas.

Nos anos 90 a Plebe encerrou as atividades. Como foi ficar sem esse chão?

Mais uma vez, no documentário, este momento é bem retratado pelas três bandas. Tudo deu errado no Brasil e a economia estava numa espiral descendente. Sério, a inflação estava a uns 4000% ao ano. Algo inimaginável hoje em dia. Meu pai faleceu em 93 e resolvi ir embora do Brasil. O André estava com filha pequena e pensava voltar para Brasília e cá pra nós, eu estava um pouco de saco cheio de ser o "Philippe da Plebe". Afinal, estava na banda desde que tinha 14 anos...

Você então vai pra Nova York. O que fez por lá?

Dei um tempo. Não tirava férias há 8 anos. Eu viajei pela Europa e pelos EUA, aprendi francês, joguei vôlei - coisa que não podia por causa do "perigo" para o dedos (risos). Sei que soa bobo, mas estava livre do fardo.
Também trabalhei com produção e trilha sonora e montei a banda Daybreak Gentlemen. Muitas dessas músicas foram aproveitadas na Plebe e Daybreak é o nome do meu estúdio particular em Brasília. The Wake, que está na trilha Sonora do filme "Federal" originalmente era do Daybreak Gentlemen.

Quando o Renato morreu você estava por lá? Como recebeu a notícia?

A minha mãe me ligou chorando e avisou

Você sabia que ele era soropositivo?

Sim, já sabia há anos. Poucas pessoas mais próximas sabiam... Um dos grandes segredos do rock nacional.
Coitado, naquela época era quase uma morte anunciada. Nunca conseguiu desfrutar do seu sucesso sem ter essa sombra em cima.

Em 2000 vocês se reagruparam. Havia muita ferida aberta entre vocês? O que se falava era que uma volta da Plebe era quase impossível porque até na porrada vocês já saíram.

Foi difícil pois todos os problemas de drogas e intransigência voltaram. Os mesmos problemas que causaram a expulsão de dois membros 10 anos antes. A EMI viu isso antes que nos nos dessemos conta. Foi em 2003 que vimos que a formação original realmente não funciona mais. Uma banda é uma caravana. Se um puxar para trás... Mas as coisas são o que são e agora com Clemente na banda, o astral é outro. Aliás nunca tivemos um clima tão bacana. Me lembra dos primórdios da banda. Queria ter tido essa sacada há 20 anos...

Vamos falar também do DVD - Rachando o Concreto - que acabou de sair.

Dvd ao vivo não é fácil, ainda mais ao ar livre e tendo que cronometrá-lo ao pôr do sol. Como produtor musical do DVD, posso adiantar que deu muito trabalho. Mas estamos muito felizes com o resultado. Foi uma maneira diferente de fazer um DVD. Era como se fosse "all systems go", sem chances nem margem de erro, devidas as proporções, como um lançamento do ônibus espacial (risos). E nada mais apropriado que filmá-lo em Brasilia, a cidade que foi a causa de tudo.

O isolamento físico e cultural do resto do país que fez o rock de Brasília a se tornar o que é. Se não fosse a influência direta da cidade, tudo seria bem diferente. Eu falava sempre isso para o Renato Russo. A cidade, ainda sem identidade cultural e com a repressão do governo militar no ar, nos forçou a criar a nossa própria cultura. Críavamos as próprias festas, roupas, e consequentemente, as próprias bandas. Por isso que o rock de Brasília do começo dos anos 80 é tão identificável. Através do DVD, queremos mostrar, para quem ainda não conhece a Plebe, que já se fez rock sério nesse país. E mostrar que vale a pena ter principios. O caminho é mais difícil, mas gosto de pensar que vale a pena.

E o DVD ainda teve uma indicação ao Grammy Latino. Você ficou surpreso?

Isso nos pegou de supresa. Bacana isso, né? Não sei qual é o critério, mas posso lhe assegurar que não tem jabá por trás disso. Quem sabe a era de música com conteúdo valorizado esta voltando. Para o rock brasileiro, acho que a nossa indicação ao Grammy é uma excelente notícia. Sério. (nota: a banda perdeu o prêmio para Caetano Veloso)

Paralelamente à banda você toca um estúdio e um selo ao lado do Fernando Rosa do site Senhor F. Conte um pouco pra gente sobre esse trabalho.

Quando voltei para Brasília de vez em 2003, me juntei com o "Mr. Rose" para produzir e lançar alguma bandas, como Superguidis, Watson, Los Porongas, Stereoscope, Volver entre outros sendo muitos, de fora de Brasília. O novo disco do Beto Só acabou de chegar às lojas.

Para encerrar faça uma comparação entre a cena de Brasília atual com a do fim dos anos 70/começo dos 80. Existe algo em comum entre essas gerações?

O rock alternativo em Brasília esta num limbo meio triste. As bandas mais garageiras estão se lixando para produção e gravando de qualquer maneira. Desse ruído de baixa qualidade, esta difícil alguém se destacar. Volta e meia uma banda consegue cair nas graças de um crítico conhecido, mas dá para se construir uma carreira em cima desse hype de 15 minutos? Acho que não. E quando essa realidade bate, normalmente as bandas acabam.

Já a galera do metal e hip hop correm bem mais atrás. Brasília não é mais a "Capital do Rock". Tem muitas outras vertentes aqui chamando muito mais atenção nacionalmente, e como produtor de rock, fico triste. Tento ajudar como posso, mas falta matéria prima. Fora do selo, produzo muitas bandas também como Vitrine, 10zer04, Livewire e Distintos Filhos, todos com produções recentemente lançadas. A cena independente está fervilhando de coisa legal. Agora em relação a comparação entre o começo dos anos 80 e artistas "novos", fica difícil cobrar qualquer politização e embasamento dos artistas novos que estão na mídia. Atenção: que estão na mídia.

Acho até injusto comparar as duas eras.. Não dá para cobrar a mesma postura ou lucidez de quem cresceu com pouca leitura e muita televisão. Mesmo com inspiração e um mínimo de talento, se você não tiver as ferramentas necessárias, fica complicado ressoar com outras pessoas. Assunto tem de sobra no Brasil para ser debatido, comentado e contestado, mas são poucos que conseguem isso para a sua própria geração. Muitos poucos conseguem. Ainda mais quando metade do que falam é "Tá ligado? Tá ligado?" O que vejo é uma grande apatia.

Também protesto por protesto não surte muito efeito, mas um pouco de questionamento não faria mal. Quando eu era adolescente, as diversões eram cinema e leitura e os amigos. Hoje em dia, na era digital, a atenção das pessoas esta sendo bastante desviada. Não é uma manipulação do sistema. É o excesso de informações disponíveis...

Eu realmente acho que o ser humano não foi feito para processar tudo ao mesmo tempo. Distrações como videogame, redes sociais, texting de celular, lan house, dvd caseiro, cinema 3D, videclipe... sobrecargaregam os cinco sentidos e produziram apatia. Música agora é pano de fundo para surfar Facebook, ouvida através de alto falantes ruins. Tem muita coisa errada no Brasil, e fico triste que nenhum dos artistas na mídia esteja abordando isso.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Mojo Society - Mojo Groove [2006]

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Ao lado de releituras das composições clássicas de Sonny Boy Williamson, Albert King, BB King e Bob Dylan, Mojo Society nos traz a juventude e as novas idéias nas composições próprias de seu primeiro álbum, "Mojo Groove". "Mojo Groove", música que abre o CD e é o cartão de visitas da banda, fala sobre os primórdios, o Circo Voador e a importância que aquele momento teve em suas vidas e as batalhas travadas ao longo da estrada. "Lady Blow", um típico hard rock dos anos 70, com direito ao Talk Box de Felippão, fala sobre os perigos de se apaixonar pela pessoa errada, com os hábitos errados, na hora certa. "Quero ver você", um funk-Blues (com a cozinha trepidante White-Rabicó) que fala sobre a beleza e a sedução da mulher brasileira.
de Tratore

Mojo Society é:
Marcelo Manes – Vocal e gaita.
Felippão – Guitarras, violão de aço, violão de 12, slides, backings
Big Alex - Guitarra
André White – Baixo
Rabicó – Bateria e percussão

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Kaoll & Lanny Gordin – Auto Hipnose [2010]


Criado em meados de 2008, o grupo de Música Instrumental “Kaoll & Lanny Gordin” tem como objetivo a valorização e difusão deste segmento no cenário musical. Influenciado por grupos dos anos 60 e 70 como “Pink Floyd”, “Jimi Hendrix” e artistas do Movimento Tropicalista, o projeto conta com a presença ilustre do lendário guitarrista “Lanny Gordin”, um dos pilares da própria Tropicália, participante de trabalhos memoráveis com Hermeto Pascoal, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jards Macalé, Banda Performática, entre outros.

Através de elementos da música brasileira e psicodélica universal, a banda apresenta um trabalho consistente de composições autorais presentes nos álbuns “Kaoll 04″ (2008) e “Auto-Hipnose” (2010), releituras de faixas do disco “Lanny Gordin” (2001), temas de jazz e blues, fusões e mantras contemporâneos. Além de Gordin, a formação conta com o guitarrista e idealizador do projeto Bruno Moscatiello, com o baterista Dokter Leo, além de Carlos Fharia no contrabaixo, Tiago Mineiro nos teclados/piano e Yuri Garfunkel na flauta transversal. O grupo tem se apresentado constantemente no circuito da capital, interior paulista e outras regiões do país, sempre com foco nos principais espaços dedicados à cultura da música instrumental.


A banda encontra-se em fase de divulgação de seu segundo álbum de estúdio intitulado “Auto-Hipnose”, que contou com a participação especial do exímio instrumentista brasileiro Michel Leme em duas faixas antológicas: “Groselha (O Sapato)” de Lanny Gordin e “Música Kármica” composta por Lanny e pelo próprio Michel. O disco revela a real experiência auditiva do universo experimental do grupo, propondo uma profunda viagem introspectiva aos apreciadores da boa música instrumental e trazendo o gênio da guitarra brasileira em um momento de total inspiração e liberdade criativa que permeiam o trabalho através de sutis melodias e improvisos extraordinários, além das já reverenciadas progressões de acordes que o notabilizaram como um dos grandes mestres da harmonia. Temas como “Horizontes”, ” Khan El Khalili” e “Flutuante” revelam o dna do grupo reforçando tendências já implícitas no primeiro álbum “Kaoll 04″.

Acidente - Fim do Mundo [1983]

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A banda foi fundada em 1978 buscando sempre o cenário independente. Nos três primeiros discos do Acidente, o estilo era uma união do rock básico, blues, country e pop rock. Esse é o segundo álbum da banda e a capa é imagem da fadada Salto das 7 Quedas.

Segundo a própria banda: "O segundo álbum do Acidente (que iria se chamar "Luta Armada") foi gravado em condições bem melhores que o primeiro e apresenta sensíveis melhorias, quando comparado ao anterior. Por outro lado, era ainda mais difícil conseguir qualquer tipo de resposta da mídia, uma vez que as grandes gravadoras finalmente haviam lançado seus próprios "produtos" rock e aí, tanto a imprensa quanto as rádios (pra não falar da inatingível tv) estavam inteiramente devotadas a arrecadar a sua payola. De qualquer forma, algumas faixas puderam ser ouvidas em pelo menos duas estações de FM no Rio (Maldita e Estácio) e talvez uma dúzia em todo o país: "Triste Sina", "A Lua", "Perdido num mundo de sonhos" e mais especialmente "Clube 34 Blues", que se tornou um "standard" da banda."