segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Gustavo Diaz - Mystic Eye [2014]

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Por Marcos "Big Daddy" Garcia no Metal Samsara

Sempre há uma certa expectativas quando se fala em discos instrumentais: serão discos para os ouvidos de fãs de música que não sejam instrumentistas, ou serão trabalhos voltados a um público mais seleto, daqueles que são iniciados na teoria musical, ou que, no mínimo, sejam instrumentistas?

Essa dualidade já destroçou muitos bons trabalhos, especialmente quando falamos em termos de Brasil, já que o fã de Metal (e mesmo de Rock) é extremamente conservador, e discos instrumentais tendem a ser recebidos de maneira fria pelo grande público. É sempre muito problemático vencer mentalidades já formadas. E é uma pena, pois muitos se privam de trabalhos instrumentais fantásticos, como o que o guitarrista carioca GUSTAVO DIAZ acaba de nos conceder em "Mystic Eye", seu primeiro trabalho.

Antes de tudo, o disco realmente é quase todo instrumental (se não fosse uma bela incursão de soprano no disco, uma participação especial de Bu Bolzan em "Marching Through the Flames"), mas não se assustem: a forma de Gustavo tocar não cansa nossos ouvidos, pois suas bases são pesadas e de bom gosto, e seus solos são excelentes, um misto de guitarristas com estilos mais clássicos como Ritchie Blackmore e alguma coisa de Tony Macalpine, e mesmo uma certa aura de Malmsteen devido ao jeitão neo-clássico das canções, mas não chegamos a ter 1000 notas por segundo. O jeito de Gustavo fazer solos é bem sóbrio, e não que ele não tenha excelente técnica. Apenas prefere que as canções falem por si como um todo, e não é uma exibição ou um cartão de apresentação. Não, de forma alguma, pois "Mystic Eye" nasceu para o fã comum, que apenas quer ouvir música de qualidade. E isso ele vai encontrar aqui, sem sombra de dúvidas.

Gustavo Diaz
A produção ficou a cargo do próprio Gustavo, com tudo gravado no Transiente Studio (exceto a bateria, gravada no HCS Studio), e podemos ver que houve um enorme capricho no disco como um todo, com tudo soando claro e com devido peso, cada instrumento com seu destaque (mostrando que, embora instrumental, não se foca em algum instrumento em especial). A arte de Luciana Lebel ficou ótima, aclimatando bem o conteúdo sonoro do CD.

Mesmo sendo instrumental, as músicas de "Mystic Eye" nos prendem pelos ouvidos, e nos envolvem completamente. A dinâmica musical é ótima, os arranjos muito bem pensados e trabalhados, nada ficou fora do lugar ou presente apenas por estar ali. Tudo é muito bem acabado, e a mistura de Metal tradicional, Hard, Música Clássica e outros flui de forma espontânea. Outro ponto forte: as músicas possuem duração econômica, quase sempre em torno de três minutos e meio até quatro, ou seja, não dá sono ou deixa o ouvinte cansado.

O disco como um todo é excelente, bem homogêneo, e cada uma das nove faixas é uma jóia preciosa. Em "Distant Paradise", uma faixa de andamento mais mediano e que evoca um certo "feeling" anos 80, vemos solos muito bons, sem recursos técnicos exagerados. Em "Wisdom and Glory" surge um jeitão mais Power Metal, com a bateria mais rápida nos bumbos, e toques mais clássicos nos solos, e alguns momentos muito tocantes. Novamente elementos de Power Metal se fazem presentes em "Temple of the Lost", embora a faixa tenha mais diversidade de andamentos e solos fantásticos (lindas melodias e acordes). Já "Ancient Secrets" é mais seca, com uma bela guinada para o Metal tradicional, com bela incursão e presença do contrabaixo, alguns momentos mais agressivos da bateria, e a guitarra faz belíssimos solos (um pouco mais técnicos, mas nada de "fritadas"). A curta "Purple Shades of a Dream"é mais climática, quase como uma introdução à dinâmica e pesada "Race Against Time" (base rítmica fortíssima e bem variada), com solos técnicos e envolventes. "Don't Break the Spell" também é pesada, mas surge certo toque de ecleticismo musical. Em "Marching Through the Flames", temos a maior faixa do CD, introduzida por vocais em soprano em conjunto com lindas orquestrações (André Tavares sempre é um monstro nos teclados), então se iniciam os seis minutos de puro prazer, cheios de mudanças de andamento e arranjos ótimos nas bases (os solos, sinceramente, são de uma beleza imensa). Fechando o CD, temos a um pouco mais agressiva "Maniac in the Mirror", onde surgem belíssimos arranjos de teclados, quase como se rivalizando com as guitarras.

Sim, "Mystic Eye" é um disco que merece estar em qualquer coleção de discos, pois o bom gosto é imenso. E aos que gostam dos ases das guitarras, podem colocá-lo ao lado do "Marching Out" e do "Surfing With the Alien" sem medo e com méritos. Ah, sim: pode ser adquirido direto com Gustavo na página oficial do Facebook por uma bagatela (R$ 12,00), e ainda vem de brinde uma palheta personalizada.

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