quinta-feira, 25 de setembro de 2014

ruído/mm - Praia [2008]

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Por Cleber Facchi
em 14 de fevereiro de 2011 no Miojo Indie

Ouvir o disco Praia (2008), o primeiro trabalho de estúdio da banda curitibana ruído/mm é como ouvir um daqueles extensos poemas que esbanjam lirismo e que são declamados em uma escura sala de um teatro qualquer. É como se cada verso fosse cuidadosamente pensado e perfeitamente ensaiado pelo declamador, que por sua vez cria pausas dramáticas em cada estrofe para aumentar ainda mais o clima já estabelecido. A única diferença é que essa poesia não dispõe de letras, palavras e versos, apenas som e sentimento.

Pode parecer bobagem, mas é difícil arranjar uma explicação lógica para o que é sentido nas audições desse disco. Cada canção carrega uma carga emocional muito forte, como se dialogasse com o ouvinte mesmo sem conhecê-lo, dentro de uma linguagem universal. Em Praieira, um épico de nove minutos que abre o álbum, quem ouve a faixa é ligeiramente transportado para dentro de um turbilhão emocional que vai da melancolia do início da composição, passando por momentos de desespero, raiva, angústia até o que parece ser uma redenção solitária ao fim da canção. É muito íntimo, como se mesmo ausente de palavras a faixa soubesse tudo sobre você.

Se com esse disco é possível afirmar que a banda alcançou a perfeição, então ela veio em cima de muito ensaio. Série Cinza (2004) e Índios Eletrônicos (2005) entregavam o som do sexteto formado por Giovani Farina (bateria), Sergio Liblik (piano), João Ninguém (acordeão, baixo, guitarra), Pill (baixo, guitarra e teclado), Rafael Martins (baixo, guitarra) e André Ramiro (violão, guitarra, voz) de uma maneira crua, quase fria e desprovida de sentimentos. Se havia emoção ali ela vinha amargurada, tal as guitarras embrutecidas de faixas como Dois e Gatinho. É quase como se a banda espancasse você, como se não houvesse diálogo.

Em Praia o som flui em uma linguagem oposta, mais madura. A raiva ainda habita algumas canções, mas é a sensatez quem prevalece. O álbum chega de maneira até acalentadora, conversa contigo, te orienta, mesmo sem dizer uma palavra. A homônima faixa que dá nome ao disco vai te encaminhando por meio de texturas cuidadosamente elaboradas, cada acorde se posiciona em um ponto coerente e te encaminha cada vez mais para dentro da coleção de sons, sentimentos e da alma do disco.

Para os não habituados aos arranjos estratégicos e a ausência de vocais, a banda até te presenteia com composições menos alongadas e comercialmente mais fáceis. Sanfona é uma dessas. É o tipo de canção que você ouve na trilha sonora de um filme e se sente compelido a buscá-la via rede assim que chega em casa. Seus ruídos calculados e acordes marcados conseguem encantar o ouvinte sem que pra isso precisem de muito esforço.

A beleza dentro dessa pequena obra não se concentra em pontos específicos, mas se dissolve em todos os momentos e canções. Está na minúscula Caixinha de Música, com seus míseros 50 segundos, é encontrada no clima etéreo de Stravinsky Sky, assim como é perceptível em toda a extensão de Praieira. Um trabalho que esbanja cuidado, precisão e que antes de tudo deixa transparecer sua alma.

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