segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Plebe Rude - Mais Raiva do Que Medo [1992]

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Por André Mueller
publicado em X da Questão

A Gravação de Mais Raiva do Que Medo

Mais Raiva do Que Medo tinha tudo para ser o disco perfeito da Plebe Rude, que havia retornado ao seu núcleo original, Philippe e André X. Muita gente esquece que nós dois tocamos meses juntos, na biblioteca da casa do Philippe no Lago Norte, onde compusemos Pressão Social e Nada (versão original) entre outras. Isso no início dos anos 80s. Depois que entraram o Gutje e, meses depois, o Jander. Nós que cunhamos o conceito “Plebe Rude”, seu som e sua direção.

Voltando ao tema, nos vimos de novo como sendo a Plebe, depois de três disco, vários sucessos, shows a rodo, duas brigas internas que geraram baixas, de queridinhos da gravadora a ser despedido sem nenhuma explicação. Então foi baixar a cabeça e fazer um exercício de lição aprendida. E aprendemos. Nas novas composições, o resgate das origens pós-punk e punk 77, temperadas com o que estava surgindo na cena naquela época. Lembro-me que ouvíamos muito Soundgarden, Body Count, Nirvana, Mudhoney e, pasmem, Metallica. Nada de tentar provar a destreza musical, nos focamos em compor canções fortes, que fizessem a cabeça balançar e pensar ao mesmo tempo.

Foi uma época que me lembro com muito carinho. O Philippe morava a algumas quadra da minha casa. Ia para lá a pé, ele pegava o violão, seu caderninho de idéias e a gente ficava horas compondo. Estávamos confiantes e entusiasmados com a possibilidade de gravar um novo disco, dessa vez pela independente Natasha Records, que seria distribuída pela Sony.

Fizemos tudo certinho, só entramos no estúdio com as músicas redondas e prontas. Escolhemos um produtor novato, o Paulo Junqueiro, que já havia trabalhado em outras gravações de bandas nacionais, mas nunca como produtor. O estúdio seria o famoso Nas Nuvens. Todas as cartas indicavam que seria um discasso.

Então o que houve de errado? No produto final não transparece a força das canções, o som meio pífio, o que aconteceu? Acho que o que matou a grandeza do disco foi a produção do Paulo Junqueiro. Cheguei à conclusão que técnico de som nunca dará um bom produtor – a parte técnica fala mais alto do que a artística. No caso do Paulo, nem suas habilidades técnicas foram usadas, ele simplesmente não se interessou. Acostumado com Barão Vermelho e Kid Abelha, não sabia o que fazer com aquelas músicas e deu o mesmo tratamento dado às bandinhas pop com quem havia trabalhado.

Durante o mês de gravação, não deu um pitaco sequer. Isso nos assustou, pois imaginávamos que seria igual ao Hebert, que atuou como produtor, psicólogo e amigo. O Paulo foi a antítese disso! Quando chegou a hora de gravar os vocais, fomos mostrar as letras e ele não quis ler! Disse que letra não importa!!! Foi aí que sacamos que tinha algo errado no ar.

Outro bola na trave que fizemos foi não entrosar os bateristas que fariam a gravação o suficiente antes de entrar nos estúdios. Teve músicas que eles pegaram na hora, e isso não é bom na interpretação.

Uma historinha sobre o Paulo. Tinha outra banda gravando no Nas Nuvens, cujo nome esqueci, mas era bem rock comercial, o contrário de tudo que a Plebe era. Ele tinham um pôster que penduraram na cantina. No pôster, uma mulher pelada. Coisa de adolescente mesmo. Um dia, vendo aquilo, desenhei umas imagens pornoeróticas em cima. Acho que também desenhei em cima do logo da banda. Os moleques ficaram ofendidos! Foram reclamar para o Paulo, que ao invés de me defender, mostrando a tempestade em copo de água que estavam fazendo, me fez ligar e pedir desculpas. Imagine a situação: “olha, desculpa pelas pirocas e peitos que desenhei no seu logo, enxuguem as lágrimas, nunca mais vou expor vocês a imagens tão fortes, eu prometo.” Foi ridículo.

Noutra noite, eu estava defendendo que o De Falla era melhor que o Midnight Blues Band (banda de blues do Barão/Kid Abelha) e o Paulo ficou ofendido. Como que um cara que acha que MBB é melhor que De Falla pode sequer pensar em gravar a Plebe? Desastre total.

Na mixagem, minha primeira filha, Alice, veio ao mundo. Isso foi em novembro de 1992. Gozado que cada disco da Plebe significa um marco na minha vida. Dediquei todo o esforço colocado na obra à ela.

Insisto, as músicas do MRDQM são muito fortes. Aurora, por exemplo, ganhou um gás com a interpretação do Txotxa e Clemente. Sem Deus Sem Lei, Mais Tempo Que Dinheiro, são músicas que, gravadas de outro jeito, poderiam estar entre os clássicos da Plebe. Aos poucos, quero salvar algumas em shows futuros.

Resumindo, planejamento perfeito, execução dúbia. Assim que vejo esse nosso quarto disco, do qual gosto muito. Foi importante, pois afirmou a determinação minha e do Philippe de continuar com a Plebe Rude.

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